Composições Fragmentadas Quais os espaços pertinentes à composição? As notas musicais, ressoando em frequências, repousam matemáticas, exatas, nas partituras. Sons representados por símbolos facilitam o estudo musical, porém, mesmo com mudanças no sistema de notação, continuam a ser ícones, marcas, sinais, nunca melodia. Tal qual notas dispostas no papel, a pintura por muito se encontrou aprisionada às margens da tela; cor, imagem e pensamentos restritos ao quadro. O rápido movimento artístico Support-surface, nascido na França entre os anos 1970 e 1972, “apoiava-se na recusa à idéia de quadro, pensado como tela sobre a qual uma imagem é projetada. "O quadro desaparece como lugar de mis-en-scène", afirma o crítico Jean Clair, "para renascer em sua fisicalidade de suporte e superfície". O rompimento com certa concepção de quadro vem acompanhado da decomposição da imagem e do trabalho com a cor, ela mesma definidora de espaços.1 Após participar da 19a Bienal Internacional de São Paulo (1987) com uma série de pinturas, Luiz Hermano se diz tragado pelas forças de poder e ego que regem a instituição. Desde então, decide não mais pintar com pincéis, são as tramas de arame, brinquedos, fios de cobre, utensílios de cozinha e uma enxurrada de objetos que adquire nos comércios e feiras mundo afora, que se equilibram em traços e cores a compor um desenho. De modo similar Paulo Whitaker concebe suas telas. Desenhos feitos no passado se agrupam em recortes e formas geométricas que saltam do chão do seu ateliê para surgir como moldes, matrizes e colagens que criam um diálogo entre passado e presente. Como bem definiu o curador Tadeu Chiarelli, “em vez de buscar, no imenso banco de imagens produzido pelo Homem, elementos para constituir seus trabalhos, Whitaker recupera elementos do seu próprio imaginário, revificando, em outros contextos, imagens produzidas por ele próprio em outros períodos de sua prática artística”. Em que lugar se inserem essas obras, nascidas entre o universo da colagem e da pintura? As palavras podem a todo gesto nomear? O processo de Gabriella Garcia também se inicia na colagem, mas esta surge como pensamento distintivo e de arranjo das obras para, em seguida, se concretizar em um esforço de assimilação entre os materiais e a superfície nas quais eles estão inseridos. Utilizando gesso, pedras, tecidos e, agora, latão, a artista, tal qual um pintor, organiza, dispõe e desconstrói os espaços onde serão dispostas as peças, produzindo um estranhamento e gerando novas maneiras de significação das formas que irrompem em excêntricas composições. O maestro Heitor Villa-Lobos dizia que “quando o criador é original por natureza, pouco importam os meios de que se vale para fixar seu pensamento.” Pouco convencionais são os desenhos de Amália Giacomini que não se criam no papel na tela e tampouco nas paredes, eles se fazem no ar, preenchem-se de vazios e à eles da forma. São Esculturas ou podemos chamá-los de pinturas? A quem detém o poder de designar senão ao próprio criador da obra? A proposta da Galeria Lume para a SP ARTE - Rotas Brasileiras, não é tirar conclusões, mas estimular o pensamento crítico a respeito do conceito da pintura e das composições artísticas que, muitas vezes, precisam ser nomeadas para se encaixar em alguma linha de pensamento crítico mas, assim, acabam também enclausuradas às tais definições. Como bem escreveu Lya Luft, “Viemos ao mundo para dar nome às coisas: dessa forma nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batizar antes de nós” 1. SUPPORT-SURFACE. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível 1 em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3181/support-surface. Acesso em: 08 de julho de 2022. Verbete da Enciclopédia. | 
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