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LITERATURA BRASILEIRA #43, QUINTA-FEIRA, 12 DE SETEMBRO DE 2024. |
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RESENHA Em viagem ao Rio de janeiro, resenhista é transportado a Roma recriada pelo bambino brasiliano no novo livro de Chico Buarque
Se o mapa é a Roma conhecida, o verso do mapa é o espaço da ficção, uma conjuração imaginária que brota do interior da memória. Bambino a Roma segue esse traço desalinhado. Acaba sendo uma forma de resistência ao olhar do leitor que, ao abrir o livro avidamente, quer em tudo ler as memórias do compositor de “Sem fantasia”. Mas não estamos no mapa, estamos no verso, há fantasia, e se pode até dizer que a forma discreta e irônica com que Chico sempre soube envolver literariamente sua persona mítica é uma das estratégias que moldou o estilo de seus romances.
Na abertura do livro, é agarrado à bola de futebol que encontramos o pequeno Francisco, prestes a embarcar para o país onde quis ser Frank para os alunos da escola americana em que o matriculam, mas onde acaba sendo mesmo Francesco, entre 1953 e 1954. O flerte com o duplo, com as identidades levemente desalinhadas, é um tema recorrente nos livros do autor. O escritor fantasma entre o Rio e a capital húngara, em Budapeste (2003), também ali às voltas com questões tradutórias e adaptações ao estrangeiro. O irmão alemão, também cantor de sucesso, que leva certo Francisco de Hollander a Berlim, em O irmão alemão (2014). Leia na íntegra a resenha de Odorico Leal
Chico Buarque aos dez anos, em Roma (Divulgação) |
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| | A musicista e poeta paulistana Clara Kok (Alexandre Kok/Divulgação)
Com sua Escuta clandestina (7Letras), poeta viaja por ruas, bairros e países com antenas ligadas para ouvir a vida atrás do barulho e enxergar o miolo das coisas.
Você sempre trabalhou com música. Como foi estrear na escrita? Sou principalmente musicista. Comecei na música instrumental, achava que ela dava conta de todos os anseios do ser humano. Quando entrei num grupo de teatro, ganhei cenário, figurino e palavra. Entendi como a palavra e a música estão juntas e como, por muito tempo da minha vida, elas estiveram separadas — até a palavra falar: “Ei, estou aqui, eu também sou som”.
E surgiu a poesia? Engraçado, sempre achei o poema e a canção parecidos, mas diferentes. Tenho a sensação de que os dois começam como um salto de paraquedas no escuro. Na canção, à medida que você vai colocando a harmonia e o ritmo, começa a clarear, o dia amanhece e você vê: “Olha, lá tem uma montanha; ali, um rio”. A música dá contorno para a palavra. Já a poesia é como o salto no escuro com uma lanterninha, iluminando uma coisa de cada vez. Às vezes é desesperador, nunca sei onde vou chegar. Quantas vezes eu me sentei na rede com meu gato no colo (é bom porque o gato não me deixava sair dali), começava a escrever um versinho e, quando via, esse começo virava o final do poema. Leia na íntegra a entrevista de Iara Biderman
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| | | BAGAGEM LITERÁRIA Casais, amigos e avós e netos se entregam às delícias de ler bons livros em voz alta
Assimilar em voz alta o que um autor tem a dizer é uma prática comum a crianças ainda não alfabetizadas, que recorrem aos mais velhos para saborear a sopa de letrinhas nas páginas à sua frente. Os adultos, contudo, têm muito a ganhar preservando esse costume. Essa troca é uma ferramenta poderosa para fortalecer elos sociais e afetivos numa sociedade em que todos andamos cada vez mais enfurnados em nosso próprio mundinho virtual. Não só: pesquisas apontam ganhos para leitor e ouvinte, papéis que por vezes se alternam.
Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer, o neurologista Rodrigo Rizek Schultz diz que o recurso, com lucros cognitivos bem conhecidos para a infância, é também proveitoso no envelhecimento. “A pessoa é capaz de prestar mais atenção. Em neurociência, todo o estímulo que circule por mais áreas [do cérebro] faz com que a informação fique mais retida.” Um modelo, portanto, que “reduz o estresse e proporciona interação social”, com vantagens para a memória, o humor e as funções cognitivas de modo geral, segundo Schultz. Leia na íntegra a reportagem de Anna Virginia Balloussier
Ruth Rocha em casa com o neto Pedro (Acervo pessoal) |
| | | A jornalista paulistana Iara Biderman (Renato Parada/Divulgação)
Em “Teses sobre o conto”, Ricardo Piglia atesta que todo conto conta duas histórias. Em Tantra e a arte de cortar cebolas, estreia na ficção da jornalista e crítica de arte Iara Biderman (editora desta Quatro Cinco Um), a máxima é levada ao mínimo, pois são as palavras, mais que as histórias, que se prestam a carregar uma duplicidade.
Tanto por meio de detalhes que mostram além de seu primeiro sentido — o vermelho de um joelho ralado apontado para uma mulher significando, por exemplo, uma acusação e o anúncio de uma violência —, quanto por meio de refrações, temos notícia de que, nesta coletânea de contos, nada é gratuito, tudo é pensado. “E não foi por causa do mosquiteiro, a médica garantiu, bebês não sufocam assim. Coração”: aqui, “coração” pode ser o do bebê morto, o da protagonista, desamparado, ou simplesmente a maneira com que ela já vinha chamando o marido desde o começo do parágrafo. Leia na íntegra a resenha de Natalia Timerman
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| | | MEIO AMBIENTE Desastres reais em Salvador e Maceió inspiram coletâneas de contos que ajudam a produzir novas memórias sobre as tragédias Apesar da diferença de anos que separa as duas tragédias, em comum, o gesto de autorias que não querem deixar morrer uma história que deve ser conhecida e, por outro lado, a produção de uma nova fonte de memória que se faz a partir das histórias reunidas pelos escritores. Nesse ponto, a literatura tem mais tentáculos do que a história oficial, por ser capaz de manusear dados que não são objetivos, porém inegociáveis para a transmissão da memória ou de denúncia de crimes escancarados como esses. Motel Mustang e A fenda da lagoa não se limitam aos registros factuais e vão ao cerne dos crimes e seus personagens, possibilitando que vejamos os indivíduos vítimas das tragédias com todos os recortes sociais que permitiram que estivessem no local exato do horror.
Leia na íntegra a resenha de Edma de Góis
Acima, recorte do jornal A Tarde mostra a encosta que desabou sobre motel em Salvador, em 1989 (Divulgação) |
| | RESENHA Em novo romance, Mariana Salomão Carrara retrata a realidade devastadora e lentamente mortal das plantações de tabaco do sul do país |
| | A escritora Mariana Salomão Carrara (Renato Parada/Divulgaçâo)
Amorte tem seus caprichos. Pode chegar chutando portas, sem a cortesia de um aviso prévio, como Mariana Salomão Carrara retrata com maestria em Não fossem as sílabas do sábado (Todavia, 2022). Ou pode ir se insinuando pelas beiradas, como uma praga que de folha em folha devora a plantação. É com essa falência gradual que a escritora paulistana tira satisfações no seu novo romance, A árvore mais sozinha do mundo. O enredo tomou forma depois da leitura de uma reportagem sobre suicídios em série no sul do Brasil.
Há algumas hipóteses para essa epidemia tétrica, e a combinação delas talvez dê conta de explicar por que tantos agricultores ligados às plantações de tabaco se matam em taxas bem mais altas do que a média nacional. A exposição prolongada aos agrotóxicos agressivos da fumicultura vem sendo associada ao boom de distúrbios psiquiátricos. Não bastasse o mal químico, atribulações sociais — como a tomada de terras devido a um superendividamento com empresas tabagistas — também contribuem para uma saúde mental em frangalhos.
Leia na íntegra a resenha de Anna Virginia Balloussier |
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Listão • LITERATURA BRASILEIRA |
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| Tardes brancas: 26 contos e 5 poemas. Afonso Borges. Autêntica // 88 pp // R$ 54,90 |
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| | Hospício é Deus: diário I. Maura Lopes Cançado. Posfs. Natalia Timerman e Maurício Meireles Companhia das Letras // 288 pp // R$ 99,90 |
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| | Sinos para os suicidas. Fernando Cesário. Faria e Silva // 320 pp // R$ 74,90 |
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| | Ao perdedor, os pombos. Marcelo Conde. Aboio // 256 pp // R$ 69,90 |
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| Casa de família. Paula Fábrio. Companhia das Letras // 296 pp // R$ 79,90 |
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| | Cavalos no escuro. Rafael Gallo. Record // 208 pp // R$ 64,90 |
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| | Um novo sol: vol. 1. Paulo Lins e Flávia Helena. Gryphus // 74 pp // R$ 49,90 |
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| | A morte do alquimista. Caléu Moraes. Nauta // 276 pp // R$ 60 |
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| Meu braço esquerdo: um sim à vida. Viviane Mosé. Civilização Brasileira // 266 pp // R$ 59,90 |
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| | Minha cabeça dói. Alê Motta. Faria e Silva // 96 pp // R$ 42,90 |
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| | A extraordinária Zona Norte. Alberto Mussa. Todavia // 232 pp // R$ 79,90 |
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| | Ojiichan. Oscar Nakasato. Fósforo // 168 pp // R$ 72,90 |
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| Nada mais será como antes. Miguel Nicolelis. Planeta Minotauro // 512 pp // R$ 89,90 |
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| | Condições ideais de navegação para iniciantes. Natalia Borges Polesso. Companhia das Letras // 232 pp // R$ 79,90 |
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| | Muambas. Márcia Juliana Santos. Editora Ponta de Lança // 156 pp // R$ 64,90 |
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| | Marrom e amarelo. Paulo Scott. Alfaguara // 240 pp // R$ 79,90 |
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| Coisa nenhuma. Rodrigo Silveira. Urutau // 120 pp // R$ 52 |
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| | 23 minutos. Waldson Souza. HarperCollins // 240 pp // R$ 49,90 |
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| | Krakatoa. Veronica Stigger. Todavia // 176 pp // R$ 74,90 |
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| | Os filhos que nunca tivemos. Tina Vieira. Faria e Silva // 160 pp // R$ 57,90 |
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