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Literatura brasileira: Clarice, Micheliny, Pagu

 


#29 - Quinta-feira, 27 de julho de 2023
Podcast
 
A voz e o silêncio de Clarice Lispector

A autora de A hora da estrela é a convidada deste mês do 451 MHz, que publica em duas partes o áudio de uma entrevista feita em 1976
 
No mês do aniversário de quatro anos do podcast, o 451 MHz traz uma convidada mais do que especial: Clarice Lispector. A entrevista com a autora foi feita em outubro de 1976 pelos escritores Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna e João Salgueiro para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. O áudio foi restaurado e disponibilizado pela revista The New Yorker com participação de Benjamin Moser, biógrafo de Lispector. O primeiro episódio de julho trouxe a primeira parte da entrevista, em que Lispector conta da sua infância, seu trabalho no jornal e seus livros, seguido de Benjamin Moser e Mariana Delfini falando sobre os bastidores dessa conversa. O episódio vai ao ar nesta sexta, 28 de julho, com a segunda parte da entrevista.

Leia mais sobre o episódio e ouça no seu tocador preferido.

Spoiler A edição de agosto da Quatro Cinco Um trará um texto de Benjamin Moser sobre a entrevista e a transcrição da gravação, além de um relato de Paulo Valente Gurgel, filho de Clarice, e uma releitura da protagonista de A hora da estrela por Conceição Evaristo. Assine agora para receber a Clarice.
Fichamento
 
Micheliny Verunschk

Autora de O som do rugido da onça, vencedor do prêmio Jabuti 2022, lança romance sobre intolerância religiosa e feminicídio
 

Micheliny Verunschk (Renato Parada/Divulgação)

Você se inspirou em algum caso específico de feminicídio para escrever Caminhando com os mortos?
Brinco que esse livro é uma história de zumbis, pessoas seguindo cegamente alguns preceitos até virarem walking deads. Quando comecei a escrever, li uma notícia sobre uma mulher queimada viva como bruxa. E um pouco antes de eu começar o livro, um grande amigo meu, ator e homossexual, morreu assassinado queimado. Queria pensar esse lugar do assassinato dentro da esfera da intolerância religiosa e da intolerância com o corpo.

E falar da violência em um contexto mais amplo?
Desde meu primeiro romance tenho um projeto literário de pensar o Brasil a partir de suas violências fundantes: a violência de Estado, a ditadura militar, a violência contra a mulher. Quem ler todos os livros vai perceber que alguma pecinha de um sempre remete ao outro.


Leia na íntegra a entrevista feita por Iara Biderman

Leia também: Ao narrar o rapto e a morte de indígenas, O som do rugido da onça mostra como o passado colonial irrompe através do tempo
Homenageada da Flip
 
Livros de (e sobre) Pagu

Uma seleção de livros para conhecer mais Patrícia Galvão

No início deste mês, a curadoria da Festa Literária Internacional de Paraty anunciou a autora homenageada de 2023: Patricia Rehder Galvão, a Pagu. Muito conhecida por sua atuação político-artística e seus ideais libertários, sua obra (que inclui ensaios, artigos para jornais e revistas, ficção) ainda é pouco publicada. Selecionamos alguns livros disponíveis da autora e sobre ela.

    
  


Parque industrial. Pagu • Pref. De Geraldo Galvão Ferraz • Companhia das Letras (2022)
Escrito quando a autora tinha 22 anos, o romance modernista, publicado em 1933 sob o pseudônimo Mara Lobo, traz uma reflexão sobre a industrialização e o proletariado no Brasil no século 20.
 
Autobiografia precoce. Pagu • Companhia das Letras (2020)
Escrito em 1940, o único texto autobiográfico de Pagu, retrata sua atuação no século 20 a afasta do mito de musa do modernismo. Leia resenha.

Pagu: vida-obra. Augusto de Campos • Companhia das Letras (2014)
O roteiro biobibliográfico do poeta e ensaísta resgata a produção artística, literária e jornalística de Patrícia Galvão e é considerado uma referência nos estudos sobre Pagu. 

Pagu no metrôAdriana Armony • Nós (2022)
Escritora e doutora em letras, Armony mistura realidade e ficção para narrar a passagem de Patrícia Galvão por Paris, nos anos 30.

Ouça também: 451 MHz — Martha Nowill e Adriana Armony conversam sobre a militância da grande feminista e escritora e como ela continua a inspirar

Resenha
 
Navegando sobre lacunas

Do porto de Santos ao meio do Atlântico, novela de Alberto Martins acompanha a tentativa de recompor o passado do pai
 

Em uma passagem do novo livro de Alberto Martins, os personagens Raul e Violeta, depois de uma correria pelo centro de Santos, param à beira de um dos sete canais da cidade para tomar fôlego. É o mote para o autor discorrer sobre as águas verdes que circulam desde as obras do engenheiro Saturnino de Brito no começo do século 20. Então a narrativa pega carona em uma tartaruga e parte para o mar aberto, rumo à costa da África. Em busca de águas mais quentes, prenhe de ovos, a tartaruga dá meia-volta e segue na direção oeste até a América, onde ela bem poderia ter visto corpos despejados de um navio formando “montes submarinos compostos por crânios, fêmures, ilíacos, pilhas de esqueletos fazendo um arco entre a África e o continente americano”.
 

O escritor santista Alberto Martins Rafael (Mastrocinque/Divulgação)

A tartaruga testemunha o emaranhado sutil de ventos oceânicos que se reúnem, se transformam e varrem a costa norte-americana em forma de furacão, para depois perderem força lentamente, descerem até o litoral brasileiro e passarem por Santos, para encontrar o casal de mãos dadas, caminhando de volta ao centro. Páginas mais tarde, a personagem Zoraide, amiga de Raul, diz ao narrador: “Lembro que uma vez encontrei seu pai e uma moça parados na calçada da Washington Luís. Eles estavam voltados para o canal […] e olhavam a aguinha rala lá no fundo como se estivessem admirando um aquário”. 

Leia na íntegra o texto de Wagner G. Barreira
Crítica Cultural

Poesia concreta
 
Em Ninguém quis ver, Bruna Mitrano constrói uma memória altiva e contundente das vidas periféricas

Bruna Mitrano escreve a setenta quilômetros do mar. Dois ônibus, 24 estações de trem e onze de metrô separam-na do litoral que concentra os privilégios e baliza as exclusões de quem vive no Rio de Janeiro. As coordenadas de tempo e espaço, declinadas logo nas primeiras páginas de Ninguém quis ver, são essenciais para percorrer seu segundo livro. Nem tanto porque ajudariam a decodificar referências elípticas à cidade, mas por estarem na base da arquitetura rigorosa de quarenta poemas duros, violentos e ternos.
 

A poeta carioca Bruna Mitrano (Thais Alvarenga/Divulgação)

A poesia de Mitrano está plantada num Rio que por muito tempo não aparecia no GPS da cidade letrada. Mas seu lugar tampouco é delimitado pelos pins que passaram a estabelecer o perímetro de uma literatura “periférica”. Senador Camará, na Zona Oeste carioca, é marca de nascença, lugar negligenciado pela miséria banalizada e transformada num clichê desumano. É sobre essa terra devastada e de alguma forma amada que se assentam cacos de narrativa e imagens de vidas desassistidas, invisíveis. Ou que ninguém quer ver.

Leia na íntegra a coluna de Paulo Roberto Pires

Evento literário
 
Bienal do Livro Rio, 40

Organizadores do evento começam a divulgar autoras e autores convidados
 

A Bienal do Livro Rio, que comemora quarenta anos nesta edição, será realizada entre 1º e 10 de setembro e prevê uma programação com mais de trezentos autores. Entre os confirmados está a mineira Carla Madeira, que se encontrará com o português Valter Hugo Mãe em uma conversa mediada por Pedro Pacífico, o bookster das redes sociais, que lança em agosto seu primeiro livro. Também estão confirmadas as escritoras Conceição Evaristo, Eliana Alvez Cruz, Natalia Borges Polesso e os escritores Itamar Vieira Junior e José Falero, entre outros. 

Leia mais: Em As doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe aborda a nossa formação como nação, atravessada pela violência e em busca de esperança
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