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LISTÃO DA SEMANA

 


#59 - Segunda-feira, 09 de maio de 2022
Masculinidade negra

Nossa cultura não ama homens negros — e a maioria dos homens negros não se ama. Como poderiam, na cultura do patriarcado supremacista branco capitalista imperialista? É o que questiona bell hooks em A gente é da hora: homens negros e masculinidade, que chega nesta semana às livrarias brasileiras. Em dez ensaios, ela critica a estigmatização dos homens negros (“vistos como animais, brutos, estupradores por natureza e assassinos”), mas observa também que não fizeram o suficiente para interferir no estereótipo, dada a adesão da maioria deles à masculinidade falocêntrica e patriarcal, pautada pelo machismo e pela violência — e em grande medida veiculada pela cultura gangsta.

Completam a seleção da semana o novo romance de Cristovão Tezza, uma história de amor da espanhola Rosa Montero, uma antologia de crônicas pautadas pela pandemia por Julián Fuks, o livro o timorense Luís Cardoso que venceu o Prêmio Oceanos 2021 e uma tese de Bruna Beber sobre a poeta Stella do Patrocínio (que, aliás, é tema do episódio especial que podcast que o 451 MHz lança nesta sexta!).

Viva o livro brasileiro!
 
Edição de Marília Kodic
com colaboração de Iara Biderman


Veja os lançamentos de semanas anteriores.

 
A gente é da hora: homens negros e masculinidade. bell hooks.
Trad. Vinícius da Silva. Elefante • 264 pp • R$ 63

A vasta produção de bell hooks, uma das mais importantes escritoras negras feministas da atualidade, até recentemente tinha poucas publicações no Brasil. A situação começa a mudar e a previsão é que o número de livros da autora traduzidos para o português dobre neste ano, quando a autora completaria setenta anos – hooks morreu em dezembro de 2021. Professora, poeta, crítica, ativista feminista e antirracista, hooks tem uma obra que dialoga com a de Franz Fanon e Paulo Freire, além de ser influenciada por grandes nomes do movimento negro, como Martin Luther King e Malcom X. A gente é da hora reúne dez ensaios nos quais tece sua crítica à adesão dos homens negros à masculinidade patriarcal branca e aponta caminhos para a construção de novas (e mais amorosas) masculinidades. Os ensaios são acompanhados por textos do ator e diretor Lázaro Ramos e do sociólogo Túlio Custódio. 

Leia mais: Em primeiro livro de sua trilogia sobre o amor, bell hooks defende que amar é um ato político e revolucionário.

 
Beatriz e o poeta. Cristovão Tezza. 
Todavia • 192 pp • R$ 69,90/44,90 

O autor do premiado O filho eterno (2007) e mais duas dezenas de romances traz de volta uma antiga personagem de sua ficção, a tradutora Beatriz, e o panorama de seus últimos dois livro: a crise e o cenário político recente do país. No novo romance, passado em 2020, Tezza investiga as novas complicações dos relacionamentos humanos trazidas pela pandemia. 

Trecho do livro: Sempre há uma ovelha negra na tribo, um iluminista no gueto, um globalista na família, e Chaves riu alto, até pelas vendas – ele já tem um fã-clube sólido no Brasil, a direita liberal cresce. Consultou mais uma vez o endereço próximo no e-mail publicitário, Café & Livros, um espaço aberto e ventilado com todos os protocolos de segurança, limite de lotação e mesinhas afastadas, wi-fi livre, um cardápio completo de refeições ligeiras, sanduíches e quitutes, aberto das nove às dezoito”.


Leia também: Leia também: André Sant’Anna disseca as imagens do absurdo que compõem o Brasil contemporâneo. 
 

 
A boa sorte. Rosa Montero. 
Trad. Fabio Weintraub. Todavia • 256 pp • R$ 69,90/44,90

Décimo livro da autora de A ridícula ideia de nunca mais te ver publicado no Brasil, A boa sorte é uma história de amor (entre duas pessoas e pela vida) em formato de thriller, povoado de trens e estações. Por motivos misteriosos, um arquiteto conceituado desce de um trem em uma cidade decrépita e, ali, apaixona-se por sua vizinha de origem romena. Montero, uma das mais importantes jornalistas da Espanha e autora de mais de trinta livros de ficção, jornalismo literário e infantojuvenis, também é conhecida por suas biografias de mulheres cuja importância e passado ficaram por muito tempo escondidos por preconceitos de uma sociedade patriarcal.

Trecho do livro: Olhando bem, esse homem deveria ser chamativo, atraente, o típico varão poderoso e consciente do próprio poder. Mas há nele algo deslocado, algo fracassado e errôneo. Uma ausência de esqueleto, por assim dizer. Isto é, uma ausência completa de destino, que é como andar sem ossos. Daria para dizer que esse homem não entrou num acordo com a vida, consigo mesmo, e entrar num acordo, nesta altura todos nós já sabemos, é o único êxito ao qual se pode aspirar: chegar como um trem, como este mesmo trem, a uma estação aceitável”.

Leia também: Rosa Montero entrelaça suas memórias com os diários de Marie Curie para tratar de perda, luto e da condição feminina. 

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Todavia. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais.

 
Lembremos do futuro: crônicas do tempo da morte do tempo. Julián Fuks. 
Companhia das Letras • 136 pp • R$ 69,90

Em um dos períodos mais críticos da pandemia, Fuks foi convidado a escrever para um site de notícias. Em uma coluna semanal, o vencedor dos prêmios Jabuti, Saramago e Anna Seghers refletiu sobre a doença, a morte, a política e as angústias pessoais e coletiva em um diálogo com grandes autores de todos os tempos – Virginia Woolf, Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Agora, uma seleção de trinta crônicas desses tempos pandêmicos são publicadas em livro. Fuks também foi o único brasileiro a participar do projeto literário do The New York Times sobre a pandemia, que reuniu 29 escritores de vários países, como Margaret Atwood e Mia Couto.

Leia também: Julián Fuks fala sobre seu livro A ocupação.
 
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O plantador de abóboras. Luís Cardoso. 
Todavia • 160 pp • R$ 59,90/39,90

No romance vencedor do Prêmio Oceanos de 2021, uma timorense à espera do retorno de seu noivo, durante a ocupação indonésia no Timor, relata a história de seu país. O autor, nascido em Kailako, uma vila no interior do Timor, mudou-se ainda jovem para Portugal. Uma viagem ao seu país de origem, acompanhado por José Saramago, foi a motivação para escrever O plantador de abóboras. Os dois escritores encontraram, numa viagem ao Timor arruinado por guerras e milícias, uma mulher que lhes contou como se deu a criação daquele país segundo seu ponto de vista. “Desde aquele dia eu pus na minha cabeça que eu havia um dia de contar esta história, através de uma voz feminina”, disse Cardoso na cerimônia de premiação do Oceanos – foi a primeira vez que um livro relacionado à Ásia lusófona ficou entre os finalistas e vencedores do prêmio. 

 Trecho do livro:
Minha bela inteligência
Já não andas ao meu lado
Perdi toda a inocência
Também não sou mais alado”.

Leia também: Romance de ganhadora do Prêmio Oceanos revela a brutalidade e a delicadeza de um ex-capitão de navio negreiro.

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Uma encarnação encarnada em mim: cosmogonias encruzilhadas em Stella do Patrocínio. Bruna Beber.
José Olympio/Record • 240 pp • R$ 74,90

Fruto da dissertação de mestrado defendida pela autora, o ensaio coloca Stella do Patrocínio não na chave da poesia, mas da profecia, atravessando as diversas camadas de suas falas-poemas. Stella do Patrocínio ficou conhecida depois de sua morte, em 1992, após mais de trinta anos internada na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, com a publicação do livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (Azougue, 2001). 

Beber, que além de poeta, tradutora e mestre em teoria e história literária, também transita pelas artes plásticas e cênicas, faz um estudo transdisciplinar e afetivo do universo de Stella. O ensaio utiliza conceitos da sociologia, da psicanálise e da antropologia, mas vai além destes recortes. “A autora é uma espécie de costureira dos fios de saberes que formam o pensamento poético de Stella em suas fontes orais”, escreve Marcelo Ariel em resenha publicada nesta edição de maio da Quatro Cinco Um. No mês da luta antimanicomial, também vai ao ar nesta sexta, 9 de maio, um episódio especial do 451 MHz que apresenta, pela primeira vez, os áudios do falatório de Stella do Patrocínio

Leia também: Stella do Patrocínio é um patrimônio poético brasileiro sem ter escrito um só poema.

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