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VISUAL ARTV - GALERIA LUME CLAUDIO ALVAREZ SOBRETEMPOS





CLAUDIO ALVAREZ 
SOBRETEMPOS
 
Claudio Alvarez, Enigma, 2017
Dados [Data]

Terça-feira [Tuesday] 13.06.17 | 19h

Os delimites da matéria
“Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” Manoel de Barros, Memórias Inventadas.
Submersos em cotidianos comuns e previsíveis, fomos aplacados pela busca incessante por resultados. Nossas vidas são medidas pela capacidade produtiva e o fazer validado pelo seu potencial “monetizavél”. Imersos em um infindável pragmatismo, estamos sujeitos, com certo exagero, a nos tornarmos seres meramente funcionais. Seguindo as mesmas exigências e padrões, acentua-se a predominância do objeto utilitário em detrimento da criação pela arte, “sem eficácia”. 
Desvirtuando a lógica que perpetua a racionalidade mundana e seu elogio tacanho à aquilo que se convencionou chamar de ´resultados´, as esculturas de Claudio Alvarez têm a função de nos tirar do lugar comum, desvairando os vícios do olhar para assim alcançarmos os princípios, as origens, o momento anterior às palavras e às funções, um instante em que só existem as coisas. Instante de encantamento.
“Sobretempos” nos conduz a uma poética dos fenômenos cinéticos e óticos. As obras estimulam nossos sentidos por meio do movimento, dos jogos de espelhos e da vibração. É justamente aí que se encontra a matéria do trabalho, nessa vibração, algo que não é objeto nem idéia, algo que não entrevemos na obra, mas que podemos prever através dela.
As esculturas expostas só existem entre o movimento e o repouso, assim, surgem como sobreposições temporais.
Na obra “Espaços Simultâneos” percebemos um jogo de realidades: o que é verdadeiramente real senão aquilo que aparenta ser? A obra é constituída por uma dimensão que cria, através do reflexo, mais dois espaços. Estes ambientes aparentes simulam saídas: uma virtual, aos fundos, e outra real, acima, para fora da superfície  construída. A ligação entre os planos é representada por uma escada. Os espaços ilusórios afirmam sua existência naqueles degraus que atravessam e se elevam para fora. Onde está a obra nesse caso? Não apostaríamos em sua realidade física, tampouco em seu caráter de mera ilusão dos sentidos.
Seguindo a proposta de ampliar o campo da percepção explorando raciocínios óticos, “Espreitador” nos atraiçoa, fazendo com que questionemos a imagem factual avistada através da escultura. Em toda exposição há este resquício cético em que a interrogação se apresenta com uma novidade: a dúvida feliz.
Negando o culto da funcionalidade e da busca por soluções, as esculturas de Claudio Alvarez trazem uma sutil dose de humor da qual deriva o prazer e a possibilidade do questionamento. Essa dimensão existencial se realiza em sucessivos enigmas para a retina, na promessa de devolver ao espectador um estado de contemplação do “aqui e agora”,

Paulo Kassab Jr.


 
Rua Gumercindo Saraiva, 54 | Jardim Europa | São Paulo

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