Uma leitura diária dos muitos assuntos relacionados como mudanças climáticas 21 de janeiro de 2022 Reação da sociedade transforma decreto das cavernas em tiro no pé Enrico Bernardo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, tuitou sobre as ações contrárias ao decreto presidencial do último dia 12/1, para mostrar como o processo foi judicializado, gerando um efeito contrário ao esperado. O objetivo era abrir todas as cavernas brasileiras à exploração, independente de seu grau de relevância. Na prática, o decreto paralisará o licenciamento ambiental de cavernas de máxima relevância. Para Bernardo, "o governo não esperava uma reação tão forte e organizada da sociedade civil". Entre as ações relacionadas pelo professor está a manifestação do Ministério Público Federal, que solicitou ao procurador-geral da República, Augusto Aras - e à Procuradoria da República no Distrito Federal - que seja avaliada a adoção de eventuais providências contra a norma. A manifestação do MPF foi noticiada pelo Valor, Globo e ((o))eco. Bernardo também listou o mandado de segurança impetrado pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) e pelo senador Jorge Kajuru e noticiado pelo Metrópoles e pela Folha. O Observatório da Mineração (OM), por sua vez, foi atrás do pai da criança. E descobriu que “aprimorar a regulação que trata de cavidades naturais” é uma das 110 metas do Programa Mineração e Desenvolvimento (PMD), lançado no final de 2020. Só que, como o próprio OM denunciou em dezembro passado, o programa foi praticamente ditado pelas associações do setor mineral. A reportagem mostra que a boiada minerária não deve parar, pois o PMD contém outros absurdos e a meta do governo é que 40% do território nacional estejam livres do que o governo classifica como “barreiras” à expansão da mineração. Enquanto isso, o padrasto da criança continua a defendê-la, segundo a Folha e o Metrópoles. Em tempo: Artigo na Carta Capital mostra como as tragédias desencadeadas pelas chuvas recentes são, na verdade, resultado do desmonte ambiental promovido pelos governos federal e estadual. No texto, as autoras alertam para a situação de Minas Gerais, descrita como uma “bomba relógio” - especialmente no chamado Quadrilátero Ferrífero, o qual abriga mais da metade das barragens do Estado.
Pará: águas barrosas de Alter do Chão expõem fracasso da gestão ambiental Mais evidências sugerem que a alteração da cor das águas de Alter do Chão é resultado do garimpo. O Jornal Nacional divulgou a informação da Polícia Federal segundo a qual os garimpeiros despejam 7 milhões de toneladas de rejeitos no Tapajós. Outros possíveis fatores são a urbanização descontrolada, que resulta em desmatamento, especialmente da mata ciliar do rio, e saneamento básico precário, segundo a doutora em ciências biológicas, Dávia Talgatti, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), ouvida pel’O Globo. Na CNN, o pesquisador Tommaso Giarrizzo, coordenador do Grupo de Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA), alertou que a água escura em Alter do Chão pode ter impacto “em escala global”, quando se considera o potencial tóxico do solo arrastado pelas chuvas até Alter do Chão e, posteriormente, para o mar. Desviar os olhos das águas para olhar para cima não muda a perspectiva pessimista: a Isto É escreveu sobre pesquisa publicada no ano passado pela Nature que mostra a Amazônia emitindo mais gases de efeito estufa do que os capturando. A matéria explicou que a mudança, somada à ascensão da média de temperatura, alastrará a desertificação no chamado Arco do Desmatamento, forçando ondas de migração. Mas toda essa destruição não acontece por acaso. Em artigo, o Valor descreve como os atos negacionistas de Bolsonaro trazem bons lucros diretos para quem comete ilegalidades. Em tempo: O G1 Amazonas e o G1 Roraima detalharam os resultados do primeiro fórum da plataforma Amazônia Que Eu Quero, ocorrido em novembro passado. É o primeiro de cinco fóruns previstos pela plataforma e trouxe propostas de 10 soluções para o setor de infraestrutura da região.
Brasil está longe de preparado para as mudanças climáticas Os prejuízos com as múltiplas crises hídricas dos últimos anos já eram uma indicação do pouco preparo para o que vem pela frente. Este final de ano apenas trouxe este despreparo e descaso para a primeira página dos jornais, com as chuvas torrenciais na Bahia e em Minas Gerais e a onda de calor no Sul. Para completar, nesta semana em Marabá o nível do rio Tocantins subiu de 6 para quase 13 metros, desabrigando aproximadamente 3 mil famílias. Stela Herschmann, do Observatório do Clima, disse na rfi que a mudança climática vem impactando o mundo todo. Aqui, o descaso e despreparo dos governos aumentam significativamente a vulnerabilidade das populações e da economia. Stela acrescenta que o incentivo governamental ao desmatamento agravou a crise hídrica que já causou prejuízos de bilhões de reais aos produtores rurais do Sul. A Carta Capital reproduziu a entrevista. Mesmo as seguradoras que teoricamente trabalham com o futuro registraram uma explosão no número de sinistros em dezembro: cerca de 10 mil, mais do que o acumulado de janeiro a novembro. Rafael Walendorff, no Valor, informa que a quebra da safra de milho no Sul se soma aos efeitos de estiagem, geadas e granizo em cafezais de Minas e São Paulo. A matéria traz anseios das seguradoras para protegê-las, mas ninguém, nem seguradoras, nem produtores, fazem qualquer menção ao combate ao desmatamento da Amazônia. O tempo muito seco e muito quente no Sul está por trás dos 133 focos de incêndio detectados pelos radares, mais do que o dobro da média para o mês nos últimos 30 anos. Segundo o Metsul, o oeste do Rio Grande do Sul viu temperaturas acima de 40oC nas primeiras 2 semanas do mês. Ao longo de dezembro, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu mais de 500 alertas de risco de desastre por conta de chuvas fortes e 163 destes se realizaram. Rafael Luiz, do Cemaden, falou com a Agência FAPESP: “Não me recordo de outros períodos em que tivemos tanta atividade”. Em tempo: A região de Buenos Aires viveu, em poucos dias, extremos de calor e frio. Uma onda de calor de mais de 40oC provocou blecautes devido à demanda dos aparelhos de ar condicionado. Nesta semana, uma onda de frio varreu o país com temperaturas mínimas batendo recordes para o mês de janeiro. O MetSul conta que houve locais na província de Buenos Aires que registraram 42oC na 6a feira passada e que amanheceram nesta 3a com menos de 9oC.
Crise climática é ameaça à sobrevivência humana Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos o relógio do fim do mundo está marcando 100 segundos para a meia-noite - o final dos tempos para a raça humana. “O momento atual é tão perigoso quanto insustentável, e a hora de agir é agora”. Segundo os cientistas, houve um momento de alívio em 2021 com os EUA voltando ao Acordo de Paris, retomando conversações com Putin e Xi Jinping e, acima de tudo, colocando a ciência na base das decisões. Mas a foto neste momento é mais sombria: há uma distância imensa entre os compromissos climáticos para a metade do século e o que países e corporações estão fazendo no curto prazo. Neste meio tempo, os eventos extremos acumulam vidas e bilhões de dólares perdidos. A tensão com a Rússia voltou à primeira página e as relações EUA e China seguem longe de serem “pacíficas”. Os países desenvolvidos estão mais vacinados contra a COVID-19, mas o resto do mundo ficou bem para trás na corrida pela imunização. Assim, decidiram que o ponteiro do relógio não mexeu e segue indicando uma humanidade muito perto de um ponto sem volta. O Boletim é atômico porque foi criado na Guerra Fria, quando o estoque de armas nucleares dos EUA e do bloco soviético podia destruir milhares de vezes a vida sobre a Terra. A cada nova leva de foguetes balísticos intercontinentais, a cada negociação frustrada e a cada nova arma, o ponteiro do relógio se aproximava da meia-noite. A notícia foi destaque nos Independent, NatGeo, CNN e na France 24.
"No pain, no gain": estudo indica impacto de transição energética acelerada Acelerar a transição energética compensa - tanto em termos econômicos como planetários - mas o resultado vai levar tempo. Este é o principal aviso de um estudo da consultoria de negócios WoodMac. Segundo a análise, benefícios econômicos duradouros da transição energética se materializarão após 2050. Ou seja, é melhor abandonar a ilusão liberal de que é possível ganhar bilhões salvando o planeta. Sacrifícios serão necessários para limitar o aquecimento a 1,5°C até 2050. Segundo o estudo, podem custar até 2% do crescimento esperado para o PIB global de meados do século. Claro que a pesquisa enfatiza que prevenir um aquecimento mais extremo agora também terá um impacto econômico positivo - e já nas próximas três décadas - ao simplesmente evitar os piores danos esperados pelo aumento da temperatura. Mas esses efeitos de curto prazo podem ser anulados por outras ações necessárias no campo da economia para conter emissões. A Reuters destacou a análise. Já a Bloomberg detalhou como a instabilidade na cadeia de suprimentos global após dois anos de pandemia está afetando os preços das energias renováveis e afirma que a era da energia limpa e barata acabou. "De agora em diante, o que vai fazer a diferença em torno da expansão da energia solar e eólica não vai ser o custo - quão baixo você pode ir? - mas valor", disse à Bloomberg Edurne Zoco, diretora executiva de tecnologia limpa e energias renováveis da IHS Markit. Em tempo: Com o preço dos combustíveis fósseis nas alturas, projetos para exploração de gás de folhelho por meio do fracking na Bacia do Permiano, nos EUA, ganham uma injeção de ânimo. O FT dá detalhes do otimismo, mas lembra que não será fácil recuperar a confiança dos investidores de Wall Street, alguns ainda traumatizados pelos tombos que levaram na grande corrida americana do shale. Se essa movimentação tiver lastro, novas camadas de dificuldade estão no caminho da descarbonização econômica prometida por Joe Biden.
Financiamento para adaptação não chega aos países mais vulneráveis Estudo publicado no Carbon Brief conclui que quase metade das nações mais vulneráveis ao clima do mundo, do Haiti ao Afeganistão, perdeu a primeira rodada de doações para projetos de adaptação do Fundo Verde para o Clima (GCF) da ONU. Já foram distribuídos mais de US$ 5 bilhões durante sua primeira onda, entre 2015 e 2019, contribuindo para as obrigações mais amplas de financiamento climático das nações ricas. Especialistas regionais disseram ao Carbon Brief que a falta de dados, conhecimentos e recursos tem sido barreiras para navegar no sistema GCF e apoiar projetos climáticos. A questão é que os países que deveriam ser priorizados não têm capacidade para realmente apresentar as propostas e levar esses projetos adiante. Em tempo: FMI apresenta plano de empréstimo de US$ 50 bilhões para clima e resiliência, o que pode ajudar países de baixa e média renda. Cerca de 75% dos países do FMI seriam elegíveis para empréstimos, informa a Bloomberg.
Antártica mais quente força pinguins a mudar colônias mais para o sul Uma pesquisa realizada em parceria entre a Universidade Stony Brook e o Greenpeace descobriu que pinguins gentoo se estabeleceram em uma região mais austral do que o documentado até então. A colônia teria se fixado e reproduzido com sucesso na Ilha de Andersson, na Antártica, a uma latitude mais baixa e tradicionalmente gelada demais para a sobrevivência dos filhotes. A NewScientist traz imagens da expedição que fez o registro. Como muitos animais antárticos, os pinguins gentoo se alimentam de krill, o qual pode ficar mais difícil de encontrar quando há menos gelo no inverno. A combinação de menos comida na água e menos gelo firme na terra para a formação dos ninhos está se mostrando fatal para os pinguins. Segundo o Greenpeace, a população geral dessas aves foi reduzida em 60% desde as primeiras contagens nos anos 1970, com algumas colônias encolhendo até 77%. O i-news e o Independent também noticiaram. Em tempo 1: A BBC, por sua vez, reporta que o iceberg A68 - que chegou a ser considerado o maior do mundo - se aproxima da Geórgia do Sul, ilha relativamente próxima às Malvinas e igualmente território britânico. Desde que se separou da Antártica em 2017, o iceberg adiciona grandes volumes de água doce no Atlântico ao derreter: mais de 1,5 bilhões de toneladas de água por dia no auge de seu derretimento. Em tempo 2: No pólo oposto, as coisas não estão menos quentes. O Guardian descreve os inverno atípicos testemunhados em Alta, no norte da Noruega, a partir de trechos em formato reportagem do livro “The Treeline: The Last Forest and the Future of Life on Earth”. Com temperaturas próximas a -1°C, próprias de invernos tropicais, o verde das tundras está tomando conta da paisagem, desencadeando um ciclo perigoso. Tal ciclo influencia o solo e as atividades microbianas e faz nascer árvores onde não deveria. O resultado é um aquecimento adicional que favorece o descongelamento do permafrost - solo típico do Ártico - e a liberação de metano, um dos mais potentes causadores do efeito estufa. Entre os mais afetados estão os Sami, o único grupo indígena da Europa com cerca de 80 mil indivíduos espalhados por Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Ucrânia e Alasca, nos EUA.
Cientistas descobrem corais intocados em águas profundas no Taiti A descoberta de um “jardim de corais” intocado e preservado a uma profundidade de 30 metros está trazendo esperança para a comunidade científica internacional e para os profissionais que atuam com conservação dos oceanos. Com três quilômetros de extensão, os corais foram localizados por acaso por pesquisadores franceses em águas profundas do Pacífico Sul, na costa do Taiti, na Polinésia Francesa, como relatou à Associated Press Laetitia Hédouin, pesquisador do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica em Morea. O recife possui flores enormes, que chegam a medir dois metros de diâmetro, de acordo com a Reuters. Geralmente, os recifes de coral são encontrados a menos de 25 metros de profundidade. Com a descoberta, os cientistas celebraram o quanto há por desvendar sobre corais em águas mais profundas, onde ainda existe luz suficiente para que possam se desenvolver e crescer, e onde seguem preservados dos impactos das mudanças climáticas, da poluição e da pesca predatória. “O importante é levantar a questão de como os recifes de corais se tornam mais resilientes às mudanças climáticas”, afirmou o líder da missão pela Unesco, Julian Barbière. “Provavelmente existem muito mais desses ecossistemas sobre os quais não sabemos. Devemos trabalhar para mapeá-los e protegê-los”, afirmou à BBC. Os recifes de coral, conhecidos berços da vida marinha, são um dos ecossistemas mais afetados dos oceanos devido às alterações provocadas pelo aquecimento global, pela poluição e pela pesca predatória. A famosa barreira de corais (Great Barrier Reef) da Austrália, por exemplo, está sendo severamente afetada pelo aquecimento das águas do mar, que provocam um fenômeno de embranquecimento (bleaching, em inglês) dos corais e colocam em risco o ecossistema inteiro. No caso australiano, 80% dos corais já estão passando pelo processo de branqueamento. A notícia repercutiu também no Washington Post. Em tempo: O Guardian deu destaque, nesta quinta (20/1), ao trabalho de um grupo de voluntários que está plantando mudas e tentando salvar as “árvores de Josué” (Joshua Trees), uma espécie endêmica do Deserto de Mojave, no condado de San Bernardino, na Califórnia, Estados Unidos. A espécie, que junto com as sequóias define a paisagem do deserto no Oeste americano, foi severamente impactada pelos incêndios florestais que atingiram a reserva natural em 2020, quando 1,3 milhão de árvores foram queimadas. O trabalho é bem-vindo, já que estudo publicado pela Ecosphere indica que, se as emissões de carbono permanecerem nos níveis atuais, apenas 0,02% da árvore Joshua sobreviveria.
Carreiras em "reset": os profissionais que estão trocando empregos fósseis por verdes Alguns mudaram de área por se preocupar com o planeta, outros por não ter escolha, já que a área onde trabalhavam está em crise. A reportagem da BBC traz relatos de pessoas que trocaram trabalhos que envolvem a indústria fóssil por empresas cuja atividade é de baixo carbono. Mas apesar de existir um forte movimento em direção a empregos verdes e de baixo carbono, ainda existem muitas deficiências para as habilidades verdes. “Há intenção, mas a política do governo poderia fazer mais para obter rapidamente mais aprendizes para que eles possam começar a desenvolver habilidades. Isso não pode ser feito em escala, a menos que o governo dê mais recursos aos conselhos locais”, analisa Denis Fernando, ativista da Friends of Earth. Em tempo: A expressão “eco-ansiedade” foi apresentada pela primeira vez pela American Psychology Association em 2017. Trata-se do medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que aparece na observação do impacto aparentemente irrevogável das mudanças climáticas, medo que gera uma preocupação associada ao futuro de cada um e das próximas gerações. De acordo com a Lancet Planetary Health, em uma pesquisa com aproximadamente 10 mil jovens de diferentes países de 16 a 25 anos, cerca de 75% deles disseram que enxergam o futuro como assustador, segundo o UOL Ecoa. A matéria traz casos de quem já sofre do mal deste novo século.
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