Uma leitura diária dos muitos assuntos relacionados como mudanças climáticas 13 de janeiro de 2022
Parlamentares querem abrir comissão especial para analisar impacto das chuvas extremas sobre Bahia e Minas Gerais Enquanto Bolsonaro dá entrevistas atacando as vacinas e a ANVISA, o Congresso cogita interromper seu recesso para instalar um colegiado temporário para tratar dos estragos causados pelas chuvas em todo o Brasil. A sugestão de convocar uma Comissão Representativa do Congresso foi protocolada nesta segunda (10/1) pelos deputados Elias Vaz (PSB-GO) e Camilo Capiberibe (PSB-AP), os quais foram entrevistados pelo Valor. O Estadão ouviu outro requerente, o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), para quem a comissão poderá organizar as demandas dos prefeitos das cidades atingidas, além de iniciar a construção de um projeto sobre a criação do fundo permanente para situações de calamidade. Mas enquanto o presidente se omite e o Congresso estuda se coloca ou não o pé na canoa, a tragédia segue seu curso. A Folha informa que a atual estação chuvosa em Minas Gerais, que está longe do fim, já suplantou o total de mortes do último período de chuvas, entre o final de 2020 e o começo de 2021. Mais cinco óbitos foram confirmados nesta quarta (12/1) em Minas Gerais, elevando para 24 o número total até o momento. Detalhe: 18 destes ocorreram nestes primeiros 12 dias de 2022 e não incluem as vítimas fatais do acidente em Capitólio. Segundo o Valor, o número de municípios que decretaram situação de emergência em Minas Gerais passou de 145 para 341 em 24 horas. Até ontem, o total de desalojados era de 24.610 pessoas, sendo que 10.854 ficaram nessa situação nas últimas 24 horas. A situação das estradas mineiras é igualmente trágica: 139 pontos de interdição em rodovias estaduais e federais, de acordo com O Globo. A tragédia mineira já chegou ao noticiário em inglês da BBC, da Bloomberg e da Reuters, nesta última, com um zoom sobre o rompimento do dique da francesa Vallourec. As perspectivas não são animadoras: segundo O Globo, a Defesa Civil de Minas alertou na manhã de ontem para chuvas intensas no oeste e sul do estado nas 24 horas seguintes. O UOL, por sua vez, informou previsão de chuva para a maior parte da região Centro-Oeste, que pode alcançar 200 mm em áreas pontuais no nordeste de Mato Grosso e oeste de Goiás. A matéria inclui inúmeras imagens compartilhadas em redes sociais mostrando a dimensão do estrago em Goiás, onde até ontem eram 15 municípios em situação de emergência. A Band também divulgou imagens das enchentes em Goiás.
Chuvas aumentam o nível de reservatórios hidrelétricos, mas não aliviam bolso do consumidor As chuvas que causaram tanto estrago na Bahia e em Minas Gerais não serão suficientes para reduzir a conta de luz dos brasileiros. Sim, aumentaram o nível dos reservatórios das hidrelétricas mais importantes do sistema Sudeste/Centro-Oeste, mas a situação atual ainda é bem ruim. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), o nível no sistema no final do ano estava em 26%, acima da média dos últimos dezembros (22%), mas significativamente menor do que a média entre 2010 e 2013 (44%). A ONS projeta o nível do sistema chegando a 40% até o final do mês, valor não atingido desde 2016. O Estadão e o Valor deram a notícia, lembrando que a bandeira tarifária atual é a da Emergência Hídrica que, além de ser a mais alta, dura até abril. A ver se alguém checa se as térmicas seguem ligadas. O histórico da armazenagem nos subsistemas pode ser visto aqui e a situação atual dos principais reservatórios pode ser vista aqui. Enquanto isso, as fontes limpas seguem atraindo investimentos. Mônica Scaramuzzo e Robson Rodrigues escrevem no Valor: “Em 2021, foram fechadas 22 transações do setor, com valor de negócio de R$ 16 bilhões. Para este ano, a estimativa é chegar a R$ 20 bilhões.” As eólicas e solares puxam a fila. Celso Ming, no Estadão, destaca o avanço da solar. Contando as grandes plantas e os painéis residenciais, a capacidade instalada fechou 2021 em espantosos 13 GW ou 7% do total do país e um salto de 65% em relação aos quase 8 GW do final de 2020. Ming faz a comparação com a capacidade da geração a carvão mineral e derivados de petróleo (13 GW). Interessante notar que, somada às eólicas, a capacidade das fontes limpas é da mesma ordem que a capacidade fóssil, incluindo o gás natural. Em tempo: A Pública fez uma investigação sobre a exploração de petróleo na imensa foz do Rio São Francisco, entre os estados de Sergipe e Alagoas. A contenção das águas do rio para gerar eletricidade permitiu ao mar a invasão dos mangues costeiros. Mas a ameaça maior pode vir dos 11 poços de petróleo que a Exxon quer perfurar por ali. “A área de influência, sujeita a impactos diretos e indiretos do chamado Projeto SEAL, vai de Alagoas até o Rio de Janeiro. Em caso de vazamento, pelo menos 52 Unidades de Conservação podem ser diretamente afetadas, entre elas a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, uma das sete áreas de prioridade máxima para a conservação dos recifes de coral no Brasil.“ A Exxon começou a treinar pescadores a como lidar com um vazamento, antes mesmo de uma autorização do IBAMA. As prefeituras, possivelmente de olho nos royalties, estão sendo coniventes. É mais uma pesada espada sobre os preciosos ecossistemas costeiros do país.
A caminho do Sul do Brasil, onda "monstro" de calor causa incêndios e apagão elétrico na Argentina Um continente fustigado por eventos climáticos extremos. Este é o retrato da América do Sul neste começo de 2022. Se no centro do Brasil as tragédias são provocadas por chuvas intensas, a parte meridional do continente, incluindo Argentina, Uruguai e Paraguai, sofre com secas e, agora, uma onda de calor intenso que pode trazer máximas próximas aos 50oC. Na terça (11/1), Buenos Aires enfrentou seu quarto dia mais quente em 115 anos, ou desde que os registros passaram a ser arquivados pelo Serviço Meteorológico Nacional (SMN) argentino em 1906, e de acordo com o MetSul várias províncias entraram em alerta vermelho. Neste mesmo dia, a demanda por energia para refrigerar casas e empresas provocou um blecaute em Buenos Aires, prejudicando quase 750 mil pessoas. A notícia foi repercutida por g1, O Globo, Valor, Veja e Folha. O MetSul informou também que o governo argentino decretou emergência ígnea em todo o território por um ano, devido ao número crescente de incêndios, com o objetivo de adotar medidas para prevenir novos focos e reparar áreas afetadas. A onda de calor tem força suficiente para elevar os termômetros até os 40oC tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, 159 municípios já estão em situação de emergência devido à estiagem que começou em novembro e que deve causar perdas financeiras nas lavouras de soja e milho da ordem de R$ 19,8 bilhões, segundo cálculo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul noticiado pelo Valor. Analistas comentaram na Reuters sobre como as perdas das lavouras usadas como alimentação do gado terão impacto sobre o custo da carne este ano. O calor extremo deve prejudicar também o sistema de abastecimento de água e energia: segundo o g1, ao menos 17 estações hidrológicas de Santa Catarina estão em situação de alerta ou emergência, segundo os dados do boletim da Epagri/Ciram, que faz o acompanhamento nas bacias e complexos do estado, divulgados na manhã de ontem (12). A BBC observa que cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) atribuem esta e outras mudanças do comportamento natural do planeta às mudanças climáticas, que estão aumentando as ondas de calor, secas, alagamentos e outros eventos climáticos extremos. Já o MetSul explica que esta onda “monstro” é um exemplo de extremo climático composto, ou seja, várias situações extremas que ocorrem simultaneamente, agravando umas às outras. Assim como os eventos climáticos extremos, os compostos estão também cada vez mais comuns. A Reuters menciona como a onda de calor tem levado os argentinos a questionarem sobre a mudança do clima.
Vendas de carros elétricos e híbridos triplicaram no Brasil em 2021 O mercado de carros elétricos, híbridos plug-in e híbridos cresceu 77% em relação a 2020, somando 34.990 unidades, segundo informações da Associação Brasileira do Veículo Elétrico reportadas pelo O Globo. No ano, a venda de veículos elétricos puros mais que triplicou, segundo dados da ANFAVEA reportados pelo Poder 360: foram 2.860 contra 801 no ano passado. Apesar do crescimento significativo, a participação dos carros exclusivamente elétricos sobre o total de veículos leves vendidos em 2021 foi de somente 0,14%. Se incluídos os modelos híbridos, esta sobe para 1,8%. Na lista dos Top 10 elétricos mais vendidos constam vários de luxo ou de nicho, pela ordem: Nissan Leaf Tekna, Porsche Taycan, Volvo XC40 Recharge, Mini Cooper Electric, Audi e-Tron, BMW i3, Fiat 500e Icon, Chevrolet Bolt, BYD ET3 e Renault Kangoo. Canal Tech e Motorshow também reportaram os números do mercado de elétricos. Em tempo: Após uma década de declínio acentuado, o preço das baterias elétricas empregadas pelos veículos elétricos e híbridos deve aumentar em 2022. O suprimento de lítio e de outras matérias-primas simplesmente não consegue acompanhar a demanda que tem subido como foguete. Os preços do carbonato de lítio, por exemplo, terminaram 2021 em níveis recordes: na China, o maior país produtor de baterias, passou dos US$ 43 mil por tonelada, mais de cinco vezes maior do que em janeiro de 2021, como informa o Financial Times. O jornal financeiro inglês informa que o preço de outros minérios usados nas baterias também subiu fortemente: o cobalto dobrou no ano, alcançando mais de US$ 77 mil por tonelada, enquanto o níquel saltou 15%, ultrapassando os US$ 20 mil por tonelada. Além de elevar seus preços, a corrida pelo lítio causa temores socioambientais e protestos de populares na Argentina. Um relatório publicado em 2021 pela BePe (Bienaventuradores de Pobres) expressa forte preocupação com o uso e a contaminação das águas pela mineração de lítio, conforme relata o site Climate Change News. "Diante das inúmeras incertezas sobre os prejuízos ambientais e possíveis danos ao ecossistema, a atividade deve ser interrompida até que estudos estejam disponíveis para determinar de forma confiável a magnitude do dano", declarou o relatório, observando que "vizinhos denunciam que o legítimo direito à consulta pública não foi respeitado".
Alemanha apresenta pacote de medidas para triplicar ritmo de redução de emissões até 2030 Uma tarefa gigantesca. Foi assim que Robert Habeck, ministro alemão da Economia e Proteção do Clima, definiu o trabalho que seu país tem pela frente se quiser cumprir os compromissos climáticos assumidos até meados do século. Segundo o ministro, será necessário triplicar os cortes de emissões para atingir as metas, o que terá impactos econômicos e sociais que exigirão um “massivo debate nacional”, em suas palavras. A Alemanha não cumpriu sua meta de redução de emissões no ano passado, e a previsão é de que descumpra a deste ano também, o que prova que a transição prometida será tudo, menos suave. Qualquer plano climático sério deve prever que a energia limpa substitua rapidamente as fontes de energia fóssil, ao mesmo tempo em que reforce medidas de eficiência energética. No caso da Alemanha, além de substituir as termelétricas fósseis, o país também precisa de energia renovável para aposentar suas usinas nucleares, um divórcio que começou na época dos acidentes nucleares em Fukushima, no Japão, como conta a Bloomberg. Apesar das plantas nucleares não emitirem gases de efeito estufa - o que poderia qualificá-las para a transição energética -, o risco da poluição gerada por um eventual acidente é muitas vezes superior aos benefícios. A ex-chanceler Angela Merkel, simpática à ideia de prolongar a vida útil dessas plantas, bem que tentou, mas não convenceu os alemães. O resultado é que os líderes climáticos da Europa precisam fazer simultaneamente um phase-out fóssil e nuclear para cumprir o combinado. The Guardian, Bloomberg e Climate Home destacaram a entrevista do ministro. Em tempo: Quem também terá de trabalhar dobrado para cumprir o prometido é Joe Biden, que brilhou na COP26 com uma das participações mais ambiciosas dos EUA em negociações climáticas de todos os tempos. Os democratas agora lutam para aprovar o Build Back Better e seu investimento histórico de 555 bilhões de dólares em energia limpa. Eles têm pouco tempo para avançar a legislação antes das eleições de meio-termo e a próxima cúpula das Nações Unidas sobre o clima no Egito, tudo em novembro. Washington Post e AP destacaram os desafios que os planos climáticos de Biden terão para avançar em 2022.
Possível inclusão de gás natural em plano climático europeu irrita investidores O Institutional Investors Group on Climate Change (IIGCC) - que reúne a maioria dos principais gestores de ativos do mundo, como BlackRock e Vanguard - quer a remoção do gás natural do livro de regras para uma economia verde da União Europeia, informam Bloomberg e Reuters. Segundo o grupo, a permanência do gás natural prejudicaria as tentativas da UE de liderar esforços internacionais para estabelecer padrões baseados na ciência para investimentos verdes. Apesar de algumas das nações da UE considerarem o gás natural como uma fonte de energia fundamental para reduzir sua dependência do carvão, a sua infraestrutura do combustível está associada a vazamentos de metano, gás de forte poder de aquecimento da atmosfera global. A Comissão Europeia vinha seguindo o conselho de especialistas e não rotulava as usinas de gás natural como investimentos verdes, a menos que limitassem suas emissões a 100g de CO2e/kWh. Porém, conforme informa a Reuters, a proposta inicial de regras feita pela Comissão, que aceitava este limite, foi enfraquecida pela oposição de países como a Polônia e a Hungria. A última proposta preliminar à qual a Reuters teve acesso, incluia um limite de 270g de CO2e/kwh para as usinas de gás natural até 2030. Isto, segundo o IIGCC, permitiria às empresas de energia usarem o rótulo verde da taxonomia, apesar de não estarem no caminho certo para atingir emissões líquidas zero até 2050 - a meta que os cientistas dizem que o mundo deve alcançar para evitar mudanças climáticas desastrosas. “À medida que avançamos para o zero líquido, o gás é um grande combustível de transição, então, à medida que você desligar as usinas a carvão em outros países, há mais demanda por gás, mas não há abundância de gás que você pode simplesmente ligar rapidamente", explica Chris O'Shea, chefe da maior fornecedora de energia doméstica do Reino Unido, a British Gas, para o The Guardian, que traz reportagem sobre a tensão existente na Europa pelo gás russo. Inclusive, o Financial Times e o Valor Econômico destacam que o "Chefe da IEA (International Energy Agency) acusa a Rússia de agravar a crise do gás na Europa". Segundo o The Guardian, acusa-se a Rússia de orquestrar o aprofundamento da crise energética europeia em um momento de tensões geopolíticas aumentadas, retendo até um terço de suas exportações de gás. Para o diretor-executivo da agência, Fatih Birol, a estatal russa Gazprom enviou cerca de 25% menos de gás do que o normal para a Europa nos últimos meses, sendo que houve um aumento na demanda após a crise econômica de 2020. O Financial Times acrescenta ainda que Birol destaca que notou a coincidência que a mudança do fluxo do envio de gás pela Rússia com as tensões políticas com a Ucrânia. Do mesmo modo que a Europa depende do gás russo, a Rússia depende destes consumidores. Em tempo: Segundo o The Guardian, a atual fraqueza política do primeiro ministro Boris Johnson deixa a agenda climática em risco e para muitos analistas cria o temor que o compromisso do governo com o net zero esteja enfrentando um dos seus testes mais severos. Johnson enfrenta críticas e bloqueio do partido e de parlamentares conservadores por estarem irritados pelo aumento de preço da energia e do custo de vida. Em outra reportagem, The Guardian e Bloomberg informam que o governo do Reino Unido está sendo processado por duas ações judiciais porque o plano de descarbonização da economia está aquém do necessário para evitar as consequências da emergência climática. Os documentos judiciais foram apresentados na quarta-feira (12) pela ClientEarth (CE) e, separadamente, pela Friends of the Earth (FoE). A CE também alega que o não cumprimento dos orçamentos legais de carbono violaria a Lei de Direitos Humanos, impactando o direito dos jovens à vida e à vida familiar, registra The Guardian.
Crise climática e guerra civil causam onda de deslocados em Moçambique A ONU considera Moçambique um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Desde 1970, o país passou por 79 eventos extremos - o segundo mais atingido do continente depois da África do Sul. Além disso, há anos muitas regiões moçambicanas convivem com uma severa crise hídrica e consequente dificuldade para a produção de alimentos. Os problemas ambientais e a fome somados a um conflito civil iniciado em 2017 têm levado uma multidão - mais de 700 mil pessoas - a se deslocar pelo país em meio à violência generalizada contra mulheres e crianças. A Folha descreve em detalhes a situação crítica de Moçambique, um dos países que menos contribuíram para as mudanças climáticas e que já figura entre os primeiros a pagar esta conta. Por falar em conta, a BBC Brasil questiona quem vai pagar os prejuízos dos impactos causados pela crise climática - tema que será central na COP27, no Egito. Os países ricos deixaram claro em Glasgow sua forte resistência a assumir responsabilidades no tema, insistindo em abordagens de auxílio humanitário, insuficientes para lidar com a questão. Sobretudo agora que as mudanças no clima estão destruindo safras e inflacionando o custo dos alimentos em nível global, como destaca o FT. No mesmo tema, o Climate Home reporta como o Tufão Rai, que atingiu severamente as Filipinas em dezembro matando mais de 400 pessoas, está levando a uma severa crise de fome no país. Autoridades locais estimam os danos em US$ 230 milhões, na pesca e na agricultura, e US$ 350 milhões no caso de infraestruturas danificadas, como casas, estradas, linhas de eletricidade e tubulações de água. E é claro que nem todos os prejuízos podem ser resolvidos com dinheiro. "Quando os países perdem suas ilhas devido ao aumento do nível do mar e eventos extremos, eles perdem sua cultura e suas tradições. Não existe adaptação para isso", disse à BBC Le-Anne Roper, coordenadora de perdas e danos da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla em inglês). Em tempo: É possível que a emergência climática leve o país mais fechado do mundo a uma maior cooperação internacional. Devastada nas últimas décadas por uma série de eventos climáticos extremos, a Coreia do Norte é quase completamente dependente de dinheiro e conhecimentos externos para lidar com o tema. Durante um treinamento online em outubro, Pyongyang demonstrou estar disposta a se engajar em uma série de questões ambientais, incluindo a luta global contra a mudança climática. O principal interesse norte-coreano está no "crescimento verde”, relata o FT.
Oito ou oitenta: quanto vale um crédito de carbono A procura por offsets - créditos de carbono usados para compensar emissões de gases de efeito estufa - disparou no ano passado em função de um número crescente de empresas querendo limpar seu karma. Embora existam certificadoras emitindo estes créditos, existe um clamor por uma regulamentação global que possa separar o trigo dos créditos críveis, do joio das infinitas formas de falsear reduções de emissão e de remoções de CO2 da atmosfera. Nos primeiros tempos, os mercados de carbono tiveram um papel interessante ao promover as fontes limpas de eletricidade. Atualmente, estas têm preços competitivos o suficiente para prescindirem dos créditos, e as principais certificadoras já não aceitam mais este tipo de projetos. A bola da vez são as soluções baseadas na natureza - seja ao evitar a destruição de florestas, seja para recuperá-las. David Baker, no Bloomberg, diz que regras muito restritivas fariam o preço do carbono disparar e afastar boa parte do mercado. Por outro lado, regras muito frouxas facilitariam a entrada de projetos de qualidade duvidosa em quantidade o suficiente para o preço do carbono despencar e torná-lo uma ferramenta inútil para endereçar a mudança climática. No momento, os preços seguem aumentando, como conta o Financial Times. Citando uma pesquisa da S&P Global Platts, diz que o preço da tonelada de carbono de projetos florestais e ecossistêmicos triplicou no ano passado. Se até há pouco tempo, o preço era definido pelos compradores, o jogo agora está na mão dos vendedores. O artigo não menciona que parte importante desta demanda crescente vem do setor fóssil, ansioso por carimbar “carbono zero” em cargas de gás natural e até em containers de carvão mineral, "esquecendo" que não haverá como conter o aquecimento global em qualquer limite enquanto os combustíveis fósseis seguirem sendo queimados. O debate quanto à qualidade dos créditos é tema de outra matéria da Bloomberg: o diretor de sustentabilidade de um banco sueco diz que foi procurado por muitos que acham que merecem receber para não polu |
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Uma leitura diária dos muitos assuntos relacionados como mudanças climáticas 13 de janeiro de 2022
Parlamentares querem abrir comissão especial para analisar impacto das chuvas extremas sobre Bahia e Minas Gerais Enquanto Bolsonaro dá entrevistas atacando as vacinas e a ANVISA, o Congresso cogita interromper seu recesso para instalar um colegiado temporário para tratar dos estragos causados pelas chuvas em todo o Brasil. A sugestão de convocar uma Comissão Representativa do Congresso foi protocolada nesta segunda (10/1) pelos deputados Elias Vaz (PSB-GO) e Camilo Capiberibe (PSB-AP), os quais foram entrevistados pelo Valor. O Estadão ouviu outro requerente, o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), para quem a comissão poderá organizar as demandas dos prefeitos das cidades atingidas, além de iniciar a construção de um projeto sobre a criação do fundo permanente para situações de calamidade. Mas enquanto o presidente se omite e o Congresso estuda se coloca ou não o pé na canoa, a tragédia segue seu curso. A Folha informa que a atual estação chuvosa em Minas Gerais, que está longe do fim, já suplantou o total de mortes do último período de chuvas, entre o final de 2020 e o começo de 2021. Mais cinco óbitos foram confirmados nesta quarta (12/1) em Minas Gerais, elevando para 24 o número total até o momento. Detalhe: 18 destes ocorreram nestes primeiros 12 dias de 2022 e não incluem as vítimas fatais do acidente em Capitólio. Segundo o Valor, o número de municípios que decretaram situação de emergência em Minas Gerais passou de 145 para 341 em 24 horas. Até ontem, o total de desalojados era de 24.610 pessoas, sendo que 10.854 ficaram nessa situação nas últimas 24 horas. A situação das estradas mineiras é igualmente trágica: 139 pontos de interdição em rodovias estaduais e federais, de acordo com O Globo. A tragédia mineira já chegou ao noticiário em inglês da BBC, da Bloomberg e da Reuters, nesta última, com um zoom sobre o rompimento do dique da francesa Vallourec. As perspectivas não são animadoras: segundo O Globo, a Defesa Civil de Minas alertou na manhã de ontem para chuvas intensas no oeste e sul do estado nas 24 horas seguintes. O UOL, por sua vez, informou previsão de chuva para a maior parte da região Centro-Oeste, que pode alcançar 200 mm em áreas pontuais no nordeste de Mato Grosso e oeste de Goiás. A matéria inclui inúmeras imagens compartilhadas em redes sociais mostrando a dimensão do estrago em Goiás, onde até ontem eram 15 municípios em situação de emergência. A Band também divulgou imagens das enchentes em Goiás.
Chuvas aumentam o nível de reservatórios hidrelétricos, mas não aliviam bolso do consumidor As chuvas que causaram tanto estrago na Bahia e em Minas Gerais não serão suficientes para reduzir a conta de luz dos brasileiros. Sim, aumentaram o nível dos reservatórios das hidrelétricas mais importantes do sistema Sudeste/Centro-Oeste, mas a situação atual ainda é bem ruim. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), o nível no sistema no final do ano estava em 26%, acima da média dos últimos dezembros (22%), mas significativamente menor do que a média entre 2010 e 2013 (44%). A ONS projeta o nível do sistema chegando a 40% até o final do mês, valor não atingido desde 2016. O Estadão e o Valor deram a notícia, lembrando que a bandeira tarifária atual é a da Emergência Hídrica que, além de ser a mais alta, dura até abril. A ver se alguém checa se as térmicas seguem ligadas. O histórico da armazenagem nos subsistemas pode ser visto aqui e a situação atual dos principais reservatórios pode ser vista aqui. Enquanto isso, as fontes limpas seguem atraindo investimentos. Mônica Scaramuzzo e Robson Rodrigues escrevem no Valor: “Em 2021, foram fechadas 22 transações do setor, com valor de negócio de R$ 16 bilhões. Para este ano, a estimativa é chegar a R$ 20 bilhões.” As eólicas e solares puxam a fila. Celso Ming, no Estadão, destaca o avanço da solar. Contando as grandes plantas e os painéis residenciais, a capacidade instalada fechou 2021 em espantosos 13 GW ou 7% do total do país e um salto de 65% em relação aos quase 8 GW do final de 2020. Ming faz a comparação com a capacidade da geração a carvão mineral e derivados de petróleo (13 GW). Interessante notar que, somada às eólicas, a capacidade das fontes limpas é da mesma ordem que a capacidade fóssil, incluindo o gás natural. Em tempo: A Pública fez uma investigação sobre a exploração de petróleo na imensa foz do Rio São Francisco, entre os estados de Sergipe e Alagoas. A contenção das águas do rio para gerar eletricidade permitiu ao mar a invasão dos mangues costeiros. Mas a ameaça maior pode vir dos 11 poços de petróleo que a Exxon quer perfurar por ali. “A área de influência, sujeita a impactos diretos e indiretos do chamado Projeto SEAL, vai de Alagoas até o Rio de Janeiro. Em caso de vazamento, pelo menos 52 Unidades de Conservação podem ser diretamente afetadas, entre elas a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, uma das sete áreas de prioridade máxima para a conservação dos recifes de coral no Brasil.“ A Exxon começou a treinar pescadores a como lidar com um vazamento, antes mesmo de uma autorização do IBAMA. As prefeituras, possivelmente de olho nos royalties, estão sendo coniventes. É mais uma pesada espada sobre os preciosos ecossistemas costeiros do país.
A caminho do Sul do Brasil, onda "monstro" de calor causa incêndios e apagão elétrico na Argentina Um continente fustigado por eventos climáticos extremos. Este é o retrato da América do Sul neste começo de 2022. Se no centro do Brasil as tragédias são provocadas por chuvas intensas, a parte meridional do continente, incluindo Argentina, Uruguai e Paraguai, sofre com secas e, agora, uma onda de calor intenso que pode trazer máximas próximas aos 50oC. Na terça (11/1), Buenos Aires enfrentou seu quarto dia mais quente em 115 anos, ou desde que os registros passaram a ser arquivados pelo Serviço Meteorológico Nacional (SMN) argentino em 1906, e de acordo com o MetSul várias províncias entraram em alerta vermelho. Neste mesmo dia, a demanda por energia para refrigerar casas e empresas provocou um blecaute em Buenos Aires, prejudicando quase 750 mil pessoas. A notícia foi repercutida por g1, O Globo, Valor, Veja e Folha. O MetSul informou também que o governo argentino decretou emergência ígnea em todo o território por um ano, devido ao número crescente de incêndios, com o objetivo de adotar medidas para prevenir novos focos e reparar áreas afetadas. A onda de calor tem força suficiente para elevar os termômetros até os 40oC tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, 159 municípios já estão em situação de emergência devido à estiagem que começou em novembro e que deve causar perdas financeiras nas lavouras de soja e milho da ordem de R$ 19,8 bilhões, segundo cálculo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul noticiado pelo Valor. Analistas comentaram na Reuters sobre como as perdas das lavouras usadas como alimentação do gado terão impacto sobre o custo da carne este ano. O calor extremo deve prejudicar também o sistema de abastecimento de água e energia: segundo o g1, ao menos 17 estações hidrológicas de Santa Catarina estão em situação de alerta ou emergência, segundo os dados do boletim da Epagri/Ciram, que faz o acompanhamento nas bacias e complexos do estado, divulgados na manhã de ontem (12). A BBC observa que cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) atribuem esta e outras mudanças do comportamento natural do planeta às mudanças climáticas, que estão aumentando as ondas de calor, secas, alagamentos e outros eventos climáticos extremos. Já o MetSul explica que esta onda “monstro” é um exemplo de extremo climático composto, ou seja, várias situações extremas que ocorrem simultaneamente, agravando umas às outras. Assim como os eventos climáticos extremos, os compostos estão também cada vez mais comuns. A Reuters menciona como a onda de calor tem levado os argentinos a questionarem sobre a mudança do clima.
Vendas de carros elétricos e híbridos triplicaram no Brasil em 2021 O mercado de carros elétricos, híbridos plug-in e híbridos cresceu 77% em relação a 2020, somando 34.990 unidades, segundo informações da Associação Brasileira do Veículo Elétrico reportadas pelo O Globo. No ano, a venda de veículos elétricos puros mais que triplicou, segundo dados da ANFAVEA reportados pelo Poder 360: foram 2.860 contra 801 no ano passado. Apesar do crescimento significativo, a participação dos carros exclusivamente elétricos sobre o total de veículos leves vendidos em 2021 foi de somente 0,14%. Se incluídos os modelos híbridos, esta sobe para 1,8%. Na lista dos Top 10 elétricos mais vendidos constam vários de luxo ou de nicho, pela ordem: Nissan Leaf Tekna, Porsche Taycan, Volvo XC40 Recharge, Mini Cooper Electric, Audi e-Tron, BMW i3, Fiat 500e Icon, Chevrolet Bolt, BYD ET3 e Renault Kangoo. Canal Tech e Motorshow também reportaram os números do mercado de elétricos. Em tempo: Após uma década de declínio acentuado, o preço das baterias elétricas empregadas pelos veículos elétricos e híbridos deve aumentar em 2022. O suprimento de lítio e de outras matérias-primas simplesmente não consegue acompanhar a demanda que tem subido como foguete. Os preços do carbonato de lítio, por exemplo, terminaram 2021 em níveis recordes: na China, o maior país produtor de baterias, passou dos US$ 43 mil por tonelada, mais de cinco vezes maior do que em janeiro de 2021, como informa o Financial Times. O jornal financeiro inglês informa que o preço de outros minérios usados nas baterias também subiu fortemente: o cobalto dobrou no ano, alcançando mais de US$ 77 mil por tonelada, enquanto o níquel saltou 15%, ultrapassando os US$ 20 mil por tonelada. Além de elevar seus preços, a corrida pelo lítio causa temores socioambientais e protestos de populares na Argentina. Um relatório publicado em 2021 pela BePe (Bienaventuradores de Pobres) expressa forte preocupação com o uso e a contaminação das águas pela mineração de lítio, conforme relata o site Climate Change News. "Diante das inúmeras incertezas sobre os prejuízos ambientais e possíveis danos ao ecossistema, a atividade deve ser interrompida até que estudos estejam disponíveis para determinar de forma confiável a magnitude do dano", declarou o relatório, observando que "vizinhos denunciam que o legítimo direito à consulta pública não foi respeitado".
Alemanha apresenta pacote de medidas para triplicar ritmo de redução de emissões até 2030 Uma tarefa gigantesca. Foi assim que Robert Habeck, ministro alemão da Economia e Proteção do Clima, definiu o trabalho que seu país tem pela frente se quiser cumprir os compromissos climáticos assumidos até meados do século. Segundo o ministro, será necessário triplicar os cortes de emissões para atingir as metas, o que terá impactos econômicos e sociais que exigirão um “massivo debate nacional”, em suas palavras. A Alemanha não cumpriu sua meta de redução de emissões no ano passado, e a previsão é de que descumpra a deste ano também, o que prova que a transição prometida será tudo, menos suave. Qualquer plano climático sério deve prever que a energia limpa substitua rapidamente as fontes de energia fóssil, ao mesmo tempo em que reforce medidas de eficiência energética. No caso da Alemanha, além de substituir as termelétricas fósseis, o país também precisa de energia renovável para aposentar suas usinas nucleares, um divórcio que começou na época dos acidentes nucleares em Fukushima, no Japão, como conta a Bloomberg. Apesar das plantas nucleares não emitirem gases de efeito estufa - o que poderia qualificá-las para a transição energética -, o risco da poluição gerada por um eventual acidente é muitas vezes superior aos benefícios. A ex-chanceler Angela Merkel, simpática à ideia de prolongar a vida útil dessas plantas, bem que tentou, mas não convenceu os alemães. O resultado é que os líderes climáticos da Europa precisam fazer simultaneamente um phase-out fóssil e nuclear para cumprir o combinado. The Guardian, Bloomberg e Climate Home destacaram a entrevista do ministro. Em tempo: Quem também terá de trabalhar dobrado para cumprir o prometido é Joe Biden, que brilhou na COP26 com uma das participações mais ambiciosas dos EUA em negociações climáticas de todos os tempos. Os democratas agora lutam para aprovar o Build Back Better e seu investimento histórico de 555 bilhões de dólares em energia limpa. Eles têm pouco tempo para avançar a legislação antes das eleições de meio-termo e a próxima cúpula das Nações Unidas sobre o clima no Egito, tudo em novembro. Washington Post e AP destacaram os desafios que os planos climáticos de Biden terão para avançar em 2022.
Possível inclusão de gás natural em plano climático europeu irrita investidores O Institutional Investors Group on Climate Change (IIGCC) - que reúne a maioria dos principais gestores de ativos do mundo, como BlackRock e Vanguard - quer a remoção do gás natural do livro de regras para uma economia verde da União Europeia, informam Bloomberg e Reuters. Segundo o grupo, a permanência do gás natural prejudicaria as tentativas da UE de liderar esforços internacionais para estabelecer padrões baseados na ciência para investimentos verdes. Apesar de algumas das nações da UE considerarem o gás natural como uma fonte de energia fundamental para reduzir sua dependência do carvão, a sua infraestrutura do combustível está associada a vazamentos de metano, gás de forte poder de aquecimento da atmosfera global. A Comissão Europeia vinha seguindo o conselho de especialistas e não rotulava as usinas de gás natural como investimentos verdes, a menos que limitassem suas emissões a 100g de CO2e/kWh. Porém, conforme informa a Reuters, a proposta inicial de regras feita pela Comissão, que aceitava este limite, foi enfraquecida pela oposição de países como a Polônia e a Hungria. A última proposta preliminar à qual a Reuters teve acesso, incluia um limite de 270g de CO2e/kwh para as usinas de gás natural até 2030. Isto, segundo o IIGCC, permitiria às empresas de energia usarem o rótulo verde da taxonomia, apesar de não estarem no caminho certo para atingir emissões líquidas zero até 2050 - a meta que os cientistas dizem que o mundo deve alcançar para evitar mudanças climáticas desastrosas. “À medida que avançamos para o zero líquido, o gás é um grande combustível de transição, então, à medida que você desligar as usinas a carvão em outros países, há mais demanda por gás, mas não há abundância de gás que você pode simplesmente ligar rapidamente", explica Chris O'Shea, chefe da maior fornecedora de energia doméstica do Reino Unido, a British Gas, para o The Guardian, que traz reportagem sobre a tensão existente na Europa pelo gás russo. Inclusive, o Financial Times e o Valor Econômico destacam que o "Chefe da IEA (International Energy Agency) acusa a Rússia de agravar a crise do gás na Europa". Segundo o The Guardian, acusa-se a Rússia de orquestrar o aprofundamento da crise energética europeia em um momento de tensões geopolíticas aumentadas, retendo até um terço de suas exportações de gás. Para o diretor-executivo da agência, Fatih Birol, a estatal russa Gazprom enviou cerca de 25% menos de gás do que o normal para a Europa nos últimos meses, sendo que houve um aumento na demanda após a crise econômica de 2020. O Financial Times acrescenta ainda que Birol destaca que notou a coincidência que a mudança do fluxo do envio de gás pela Rússia com as tensões políticas com a Ucrânia. Do mesmo modo que a Europa depende do gás russo, a Rússia depende destes consumidores. Em tempo: Segundo o The Guardian, a atual fraqueza política do primeiro ministro Boris Johnson deixa a agenda climática em risco e para muitos analistas cria o temor que o compromisso do governo com o net zero esteja enfrentando um dos seus testes mais severos. Johnson enfrenta críticas e bloqueio do partido e de parlamentares conservadores por estarem irritados pelo aumento de preço da energia e do custo de vida. Em outra reportagem, The Guardian e Bloomberg informam que o governo do Reino Unido está sendo processado por duas ações judiciais porque o plano de descarbonização da economia está aquém do necessário para evitar as consequências da emergência climática. Os documentos judiciais foram apresentados na quarta-feira (12) pela ClientEarth (CE) e, separadamente, pela Friends of the Earth (FoE). A CE também alega que o não cumprimento dos orçamentos legais de carbono violaria a Lei de Direitos Humanos, impactando o direito dos jovens à vida e à vida familiar, registra The Guardian.
Crise climática e guerra civil causam onda de deslocados em Moçambique A ONU considera Moçambique um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Desde 1970, o país passou por 79 eventos extremos - o segundo mais atingido do continente depois da África do Sul. Além disso, há anos muitas regiões moçambicanas convivem com uma severa crise hídrica e consequente dificuldade para a produção de alimentos. Os problemas ambientais e a fome somados a um conflito civil iniciado em 2017 têm levado uma multidão - mais de 700 mil pessoas - a se deslocar pelo país em meio à violência generalizada contra mulheres e crianças. A Folha descreve em detalhes a situação crítica de Moçambique, um dos países que menos contribuíram para as mudanças climáticas e que já figura entre os primeiros a pagar esta conta. Por falar em conta, a BBC Brasil questiona quem vai pagar os prejuízos dos impactos causados pela crise climática - tema que será central na COP27, no Egito. Os países ricos deixaram claro em Glasgow sua forte resistência a assumir responsabilidades no tema, insistindo em abordagens de auxílio humanitário, insuficientes para lidar com a questão. Sobretudo agora que as mudanças no clima estão destruindo safras e inflacionando o custo dos alimentos em nível global, como destaca o FT. No mesmo tema, o Climate Home reporta como o Tufão Rai, que atingiu severamente as Filipinas em dezembro matando mais de 400 pessoas, está levando a uma severa crise de fome no país. Autoridades locais estimam os danos em US$ 230 milhões, na pesca e na agricultura, e US$ 350 milhões no caso de infraestruturas danificadas, como casas, estradas, linhas de eletricidade e tubulações de água. E é claro que nem todos os prejuízos podem ser resolvidos com dinheiro. "Quando os países perdem suas ilhas devido ao aumento do nível do mar e eventos extremos, eles perdem sua cultura e suas tradições. Não existe adaptação para isso", disse à BBC Le-Anne Roper, coordenadora de perdas e danos da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla em inglês). Em tempo: É possível que a emergência climática leve o país mais fechado do mundo a uma maior cooperação internacional. Devastada nas últimas décadas por uma série de eventos climáticos extremos, a Coreia do Norte é quase completamente dependente de dinheiro e conhecimentos externos para lidar com o tema. Durante um treinamento online em outubro, Pyongyang demonstrou estar disposta a se engajar em uma série de questões ambientais, incluindo a luta global contra a mudança climática. O principal interesse norte-coreano está no "crescimento verde”, relata o FT.
Oito ou oitenta: quanto vale um crédito de carbono A procura por offsets - créditos de carbono usados para compensar emissões de gases de efeito estufa - disparou no ano passado em função de um número crescente de empresas querendo limpar seu karma. Embora existam certificadoras emitindo estes créditos, existe um clamor por uma regulamentação global que possa separar o trigo dos créditos críveis, do joio das infinitas formas de falsear reduções de emissão e de remoções de CO2 da atmosfera. Nos primeiros tempos, os mercados de carbono tiveram um papel interessante ao promover as fontes limpas de eletricidade. Atualmente, estas têm preços competitivos o suficiente para prescindirem dos créditos, e as principais certificadoras já não aceitam mais este tipo de projetos. A bola da vez são as soluções baseadas na natureza - seja ao evitar a destruição de florestas, seja para recuperá-las. David Baker, no Bloomberg, diz que regras muito restritivas fariam o preço do carbono disparar e afastar boa parte do mercado. Por outro lado, regras muito frouxas facilitariam a entrada de projetos de qualidade duvidosa em quantidade o suficiente para o preço do carbono despencar e torná-lo uma ferramenta inútil para endereçar a mudança climática. No momento, os preços seguem aumentando, como conta o Financial Times. Citando uma pesquisa da S&P Global Platts, diz que o preço da tonelada de carbono de projetos florestais e ecossistêmicos triplicou no ano passado. Se até há pouco tempo, o preço era definido pelos compradores, o jogo agora está na mão dos vendedores. O artigo não menciona que parte importante desta demanda crescente vem do setor fóssil, ansioso por carimbar “carbono zero” em cargas de gás natural e até em containers de carvão mineral, "esquecendo" que não haverá como conter o aquecimento global em qualquer limite enquanto os combustíveis fósseis seguirem sendo queimados. O debate quanto à qualidade dos créditos é tema de outra matéria da Bloomberg: o diretor de sustentabilidade de um banco sueco diz que foi procurado por muitos que acham que merecem receber para não poluir. Algo aliás semelhante ao que o governo Bolsonaro vem dizendo a respeito da proteção à Floresta Amazônica. O site do Fórum Econômico Mundial (WEF) traz um artigo assinado por um executivo do grupo RGE da Indonésia apontando que o balanço de emissões de um projeto ou atividade é apenas parte da história. Soluções baseadas na natureza, segundo ele, não fazem sentido sem abranger a paisagem (ou ecossistema) toda e a integração de comunidades locais e populações nativas.
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