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ClimaInfo, 22 de fevereiro de 2022.

 


Uma leitura diária dos muitos assuntos relacionados como mudanças climáticas
22 de fevereiro de 2022


 

O índice nacional de homicídios criado pelo g1 com base em dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal mostra uma queda de 7% no número de assassinatos no Brasil em 2021. A redução aconteceu em todo o país, exceto nos estados da região Norte, onde as mortes violentas intencionais cresceram 10% no ano passado.
Os motivos, apontados por especialistas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) ouvidos pelo g1, são: associação do narcotráfico com crimes ambientais, como grilagem, garimpo ilegal e desmatamento; falta de integração das autoridades estaduais e federais no combate aos crimes na Amazônia Legal; e disputa de territórios entre facções criminosas.
A simbiose entre desmatamento da Amazônia e crime organizado foi elucidada em um estudo lançado ontem (21/2) pelo Instituto Igarapé. A análise detalhada e inédita de 369 operações realizadas pela Polícia Federal entre 2016 e 2021 mostra que o crime ambiental fomenta ou é fomentado por outros crimes como fraude, corrupção e lavagem de dinheiro. A destruição da floresta alimenta, assim, uma cadeia de ilegalidades, que começa pela invasão das Terras Públicas e se estende a fraudes, homicídios e o comércio de armas e drogas, informa O Globo. O podcast Ao Ponto também traz detalhes sobre os achados do estudo.
O estudo conclui que "o combate aos crimes ambientais na Amazônia demanda inteligência e priorização estratégica das instituições e órgãos ligados à fiscalização administrativa e à persecução penal. Há tarefas para o setor público, como estados e governo federal, e também para o setor privado." Difícil ver tudo isso funcionando no horizonte próximo, a não ser que um governo com políticas para a Amazônia opostas às atuais assuma em 2023.
Em tempo: A operação de combate ao garimpo ilegal Caribe Amazônico, da Polícia Federal, foi acompanhada por Sônia Bridi, do Fantástico, que também ouviu vários especialistas a respeito dos decretos presidenciais que incentivam a atividade. Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, foi certeira: “A gente analisou todos os municípios da Amazônia legal que foram expostos à extração de ouro e de diamantes e os indicadores socioeconômicos que são importantes como saúde, educação, PIB per capita, não tiveram nenhuma melhora”. Se os planos da PF derem certo, essas operações podem ficar mais frequentes: segundo o Valor, a corporação planeja comprar quatro helicópteros de grande porte para serem usados em operações contra crimes ambientais na Amazônia e estabelecer uma base aérea e logística na região. Atualmente, os cinco helicópteros próprios da PF ficam em Brasília.
Em tempo 2: Ameaçados por posseiros e garimpeiros, os Parakanãs, povo de recente contato do Médio Xingu, concordaram em abrir mão de parte de sua terra homologada em 2007 para tentar proteger suas aldeias. O processo chegou ao STF, onde o ministro Gilmar Mendes autorizou a “conciliação” entre indígenas e invasores. Como se não bastasse a violência que levou a essa decisão, sua execução foi igualmente brutal: os indígenas foram obrigados a cavar a picada de floresta demarcando a divisão de suas terras sob vigilância armada de jagunços, sem alimentação adequada. Mas nada adiantou: o rio está contaminado por mercúrio, os invasores estão perto das aldeias e de agosto de 2020 a julho de 2021, a Apyterewa foi a Terra Indígena mais desmatada do Brasil. Vale a pena ler a reportagem de Fabiano Maisonnave e Bruno Santos na Folha.


Ex-colega de Mourão no Exército é lobista de mineradora canadense na Amazônia
lobby militar em favor de negócios estrangeiros não se restringiu ao apoio nas negociações da Covaxin com o ministério da Saúde denunciadas na CPI da COVID. Segundo investigação d'A Pública reproduzida pelo UOL, o general da brigada do Exército, Cláudio Barroso Magno Filho, tem dado uma força ao grupo canadense Forbes & Manhattan - e às suas companhias associadas, a Belo Sun e Potássio do Brasil - que há anos tenta liberar os licenciamentos ambientais de suas operações de mineração no Amazonas e no Pará.
Segundo documentos obtidos pela Pública, desde 2019 os planos da Belo Sun caminham conforme o general Barroso se envolve. Graças à ajuda do militar-lobista, o grupo chegou até o vice-presidente, o general Hamilton Mourão, com quem tratou diretamente, em reuniões exclusivas em Brasília.
As vitórias do grupo começaram a aparecer no ano passado, quando o governo criou a Política Pró-Minerais Estratégicos e colocou a Belo Sun e a Potássio do Brasil entre as primeiras a serem contempladas.
As duas mineradoras canadenses batem de frente com assentados, indígenas e ribeirinhos no Amazonas e no Pará. No último trimestre de 2021, a União chegou a liberar áreas originalmente destinadas à reforma agrária para que o grupo instale um garimpo de ouro na Volta Grande do Xingu.
Segundo o material obtido pela Pública, até novembro de 2020 a Belo Sun tinha entre seus parceiros o Deutsche Bank, da Alemanha, o Royal Bank of Canada, o segundo maior acionista nessa mineradora de ouro, e o fundo de investimentos BlackRock, dos EUA, acusado por organizações indígenas de ameaçar a Amazônia e seus Povos.
Outra reportagem d’A Pública detalha como o Forbes & Manhattan fechou a compra de uma refinaria de xisto da Petrobras no sul do Paraná, mesmo após uma comissão interna da petroleira brasileira ter classificado como “desaconselháveis futuros contratos” com o Forbes & Manhattan.

Em tempo 1: A pauta ambiental é um ponto fraco de Bolsonaro e, por isso, está ganhando força entre os demais candidatos, que querem levar a Amazônia para o centro dos debates na disputa presidencial deste ano. A avaliação é d’O Globo, que entrevistou alguns dos responsáveis por desenvolver o tema nos projetos de governo dos candidatos e fez um apanhado do que os mais bem posicionados nas pesquisas já declararam. Como o próprio Globo destacou na edição de ontem (21/2), a troca no comando do ministério do meio ambiente não trouxe mudanças significativas. Isso evidencia que a atual política ambiental não é concebida no ministério, que apenas cumpre ordens. Por isso, seria de bom tom olhar para os três últimos anos, e não para eventuais promessas futuras, quando o assunto for o programa ambiental do “candidato” Bolsonaro.
Em tempo 2: A Audi, uma das maiores redes de supermercados da Alemanha, informa que a partir do verão europeu não mais comprará carne brasileira pelo risco de associação ao desmatamento. A empresa anunciou na sexta (18/2) que isso se aplica tanto a produtos congelados como a carnes frescas. A rede informou que no longo prazo também pretende rastrear a origem da carne processada em outros alimentos. De acordo com a empresa, os produtos de soja e dendê também serão analisados ​​no médio prazo e produtos de países onde a floresta está sendo desmatada também devem ser retirados de linha. A notícia é do alemão t-online. O comunicado da Aldi pode ser lido aqui.


Tragédia em Petrópolis: eventos extremos desafiam meteorologia e planejamento urbano
É preciso aprimorar a previsão do tempo para antecipar eventos extremos e estimar quando e onde chuvas torrenciais vão cair para evitar tragédias como a ocorrida em Petrópolis, alerta reportagem da Agência Estado publicada no Correio Braziliense.
Cada vez mais são necessárias estratégias de adaptação à vida em um clima em constante mudança. De acordo com o texto, já estão em testes tecnologias para tentar predizer tempestades, e a NASA testa ferramentas de aprendizado de máquina (machine learning) e inteligência artificial - voltada para mudanças climáticas - para prever risco de deslizamento de terra em todo o mundo. Se uma cidade souber previamente que receberá uma tempestade forte nas horas seguintes, terá tempo e condições para remover pessoas das áreas de risco e implantar estratégias de contenção de danos.
Um artigo de Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e relator do Plano Diretor da cidade de São Paulo, destaca que, para enfrentar as causas do problema, são necessárias reformas mais estruturais como “conter a migração para as grandes aglomerações urbanas, implantar uma política fundiária radical que garanta o acesso à terra urbana adequada, realizar uma produção massiva de habitação subsidiada para os mais vulneráveis e urbanizar os assentamentos precários”.
Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) mostrou que o dano direto a empresas de Petrópolis é de R$ 665 milhões, e que 11% das empresas relataram o desaparecimento ou morte de funcionários, informam O Globo e Valor Econômico. De acordo com o levantamento, as chuvas extremas impactaram 65% das empresas do município. Cerca de 85% ainda não tiveram atividades restabelecidas. A expectativa é que as empresas levem em média 13 dias para retomar totalmente suas atividades. Mas um em cada três prejudicados não sabe dizer quando isso será possível. A Folha informa ainda que comerciantes perderam equipamentos e mercadorias e relatam prejuízos de mais de R$ 100 mil enquanto dizem que estão recebendo poucas informações da prefeitura sobre eventual auxílio financeiro.

Em tempo: A prefeitura de São Paulo não planta árvores há seis meses, informa a Folha. Falta plantar pelo menos 180 mil árvores. A matéria aborda ainda um outro problema, a distribuição desigual da vegetação pela cidade. Se a “lição de casa fosse feita”, a cidade teria ruas mais arborizadas, melhor qualidade do ar, temperaturas mais equilibradas, maior umidade relativa e menos enchentes.


Matrizes cobram de montadoras a busca de maior descarbonização no Brasil
O governo brasileiro não está se movendo para descarbonizar a frota automotiva do país, mas as montadoras têm que fazer algum esforço para alinhar o discurso global às práticas no Brasil. Matéria do Valor de domingo (20/2) indica que pelo menos o processo de produção dos veículos e de autopeças no país terá que neutralizar suas emissões em linha com as metas das matrizes.
Automóveis são produtos feitos de um conjunto que pode variar entre 2,5 mil e 5 mil peças, o que faz com que o processo de descarbonização de sua cadeia produtiva seja extremamente complexo. Ainda assim, a maior parte das emissões da indústria automotiva vem da circulação dos produtos em si - segundo a reportagem, pode chegar a 96% do total de emissões. Ou seja, o esforço das fabricantes no Brasil é sobre uma parte residual da poluição que geram - e mesmo assim, não será tarefa fácil.
Se dependesse dos consumidores brasileiros de veículos automotivos, a descarbonização do setor seria muito mais eletrizante - mais de 60% têm intenção de comprar um veículo elétrico, de acordo com uma pesquisa encomendada pelo Itaú-Unibanco e reportada pela InsideEVs.
Mesmo com o preço elevado - a partir de R$ 160 mil - o carro elétrico continua ganhando espaço no mercado. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico, foram 2.558 emplacamentos de carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in no país nos primeiros 30 dias do ano, alta de 93% sobre o mês de janeiro de 2021.
Entre as estratégias do setor, está a substituição dos modelos a combustão pelos elétricos e híbridos nas mesmas linhas de montagem existentes, sem a necessidade de construção de novas fábricas exclusivas para os elétricos. Seguindo esta receita, a Mercedes-Benz planeja ter unidades exclusivas para a fabricação de carros elétricos ou híbridos já em 2025.
site Click Petróleo e Gás destaca uma incerteza fundamental sobre o futuro do setor: a segurança do carregamento de bateria, com a Tesla, líder global do segmento, envolvida em incidentes perigosos, embora pontuais. Outro gargalo, segundo a matéria, é o carregamento da bateria, que pode levar de 3 a 4 horas.

Em tempo: Se a descarbonização avançasse no mesmo ritmo da especulação financeira sobre créditos de carbono, a proteção ao clima global estaria garantida. O Valor informa que os preços médios dos Créditos de Descarbonização (CBios) negociados na B3 entre produtores de biocombustíveis e distribuidores de combustível dobraram neste começo de 2022. Na quinta-feira (17/2), 1 tonelada de carbono de emissão evitada na substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis tinha preço médio de R$ 92,88 - quase três vezes o que valia há um ano.


Incêndios na Argentina consomem mais de 800 mil hectares; fuligem cobre cidade brasileira na fronteira
As chamas que atingem a província de Corrientes, no norte da Argentina, já consumiram uma área equivalente a duas vezes o tamanho da província de Rhode Island, nos Estados Unidos, segundo informa a Reuters.
O fogo, que teve início há mais de um mês, aumentou ainda mais com a fórmula perfeita da catástrofe: ventos fortes, baixa umidade e solo e vegetação ressecados pela estiagem severa que atinge o país. São oito focos diferentes que, somados, representam a perda de 30 mil hectares de vegetação por dia, revelou a Associated Press.
Uma chuva fraca, ontem, trouxe um pouco de esperança. As autoridades estimam uma perda, até agora, de US$ 240 milhões (R$ 1,3 bilhão). De acordo com o Metsul, a associação de produtores Coninagro contabiliza prejuízos nos cultivos de erva-mate e arroz, além da perda de 70 mil cabeças de gado.
A fuligem e as cinzas dos incêndios na Argentina já atingiram o município de São Borja, na divisa com o Rio Grande do Sul, e a fumaça é avistada no horizonte pelos moradores de Uruguaiana, como noticiaram O Globo e g1. Bombeiros gaúchos ajudam no combate às chamas na Argentina.
Já para o cinturão agrícola argentino, cujas plantações de soja e milho são as que mais sofrem com a seca, está prevista uma chuva leve nos próximos dias, informa a Reuters. A estimativa é de que chuvas mais intensas devam ocorrer no final de fevereiro. O Clarin e a CNN também noticiaram sobre os incêndios e sobre a esperança com as chuvas.



Tempestades ao norte, seca ao sul: inverno europeu é marcado pelo clima extremo
Dudley, Eunice, Franklin, Antonia. Haja criatividade na escolha de nomes para classificar a série de tempestades que atingiu o Norte da Europa nos últimos dias. Mesmo com alertas antecipados e infraestrutura adequada, o número de mortes chegou a 14 na região, segundo a Associated Press.
Fortes chuvas e rajadas de vento com força de furacão - uma delas atingiu 196 Km/h na Ilha de Wight na 6ª feira (25/2), um recorde para a Inglaterra - interromperam serviços de trens, deixaram centenas de milhares de pessoas sem energia e provocaram destruição e inundações. As tempestades e as correntes de jato oriundas do Atlântico Norte foram consideradas incomuns pelos meteorologistas e atingiram principalmente Irlanda do Norte, França, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca e Holanda.
A Suécia, atingida por forte nevasca, teve o serviço de transporte público por ônibus suspenso em Estocolmo, capital do país. Na Alemanha, a companhia ferroviária nacional interrompeu os serviços de trem de longa distância em metade do país, destacou a Reuters.
Para quem ainda não entendeu que mudanças climáticas geram custos altos, a corretora de seguros Aon estimou que o dano causado pelas tempestades, só na Alemanha, chegou a pelo menos 1,6 bilhão de euros (quase R$ 10 bilhões). Os ventos mortais trouxeram pelo menos uma notícia boa: ajudaram a Polônia a bater recorde de produção de energia eólica, que cobriu 30% (6.700 megawatts) da demanda por energia daquele país, segundo a AP.
Neste inverno de extremos no continente europeu, enquanto tempestades castigam o Norte, o Sul é atingido por uma forte estiagem. Portugal enfrenta uma seca em área maior do que a de 2005, considerada recorde, e enfrenta riscos de perda de safra e desabastecimento de água. Os ministérios de Agricultura de Portugal e da Espanha apresentaram ontem (21/2) um plano conjunto à Comissão Europeia para endereçar a questão e pleitear apoio financeiro aos agricultores, informou a Reuters. Ainda segundo a agência, o déficit persistente de chuvas nas regiões mediterrâneas já está afetando a produção de pastagens e culturas de cevada e trigo.

Em tempo: A temporada de ciclones não dá trégua à ilha de Madagascar, na costa leste africana. Segundo a previsão meteorológica, a região deve ser atingida ainda hoje pelo ciclone Emnati. A região ainda não se recuperou dos outros 3 ciclones e tempestades que a atingiram desde o início do mês de janeiro, deixando um rastro de destruição e 200 mortes. A Associated Press traz mais informações.


Diplomacia climática: EUA e Egito criam grupo de trabalho para COP27
Os Estados Unidos e o Egito lançaram ontem um grupo de trabalho conjunto para iniciar os preparativos para a próxima cúpula sobre mudanças climáticas em novembro, a COP27, que será sediada pelos egípcios, registraram AP, Reuters, Um só planeta.
A Bloomberg informa que Alok Sharma, presidente da última cúpula climática das Nações Unidas organizada pelo Reino Unido em Glasgow (COP26), visitou o Vietnã e a Indonésia na semana passada. Os dois países estão buscando pacotes financeiros de países ricos que lhes permitam fazer a transição justa sem carvão. De acordo com a publicação, os debates da COP27 se concentrarão menos no aumento de metas para redução de emissões de carbono e mais na obtenção de financiamento climático para países em desenvolvimento - tanto para descarbonizar quanto para lidar com os impactos da emergência climática.
A Reuters complementa em outra reportagem que os ministros das Relações Exteriores da União Europeia pedirão ao principal diplomata do bloco que amplie os esforços sobre as mudanças climáticas em 2022, para ajudar a alcançar metas mais duras de redução de emissões de países individuais - o documento ainda está por ser publicado.



USS$ 90 bilhões investidos em tecnologias de baixo carbono no ano passado
Os investimentos para o desenvolvimento de tecnologias imprescindíveis para a limitação do aquecimento global a 1,5oC foram de aproximadamente US$ 220 bilhões desde 2013.
Só nos 12 meses entre julho de 2020 e junho do ano passado, foram investidos US$ 87 bilhões. O desenvolvimento de veículos elétricos e no setor de mobilidade e logística em geral recebeu quase US$ 60 bilhões. E a maior parte, ⅔, ficaram nos EUA, seguidos de Europa e China. Os dados são da edição 2021 do relatório “State of Climate Tech” da PwC.
Daniela Chiaretti destacou no Valor as 15 áreas cobertas pelo trabalho: “As cinco principais, que respondem por mais de 80% do potencial de redução de emissões, receberam apenas 25% do investimento nos oito anos (entre 2013 e 2021).” Para comparação, só a indústria do carvão recebeu US$ 1,5 trilhão nos últimos 3 anos, conforme comentamos na semana passada.
Vale ressaltar que o volume de investimentos na transição segue sua curva ascendente, enquanto a do carvão vem caindo.
O hidrogênio é uma das áreas que vem recebendo cada vez mais atenção. Chris Goodall, do Carbon Commentary, explica porque o gás é a melhor maneira de compensar as variações de ventos e insolação, claro, desde que produzido a partir de vento, sol e outras fontes limpas. Aliás, produzidos exatamente quando a oferta de eletricidade dessas fontes limpas for maior do que a demanda. Apesar da eficiência da eletrólise ainda ser da ordem de 50%, Goodall entende que o hidrogênio ainda sai bem mais barato do que as baterias. E nota que os ganhos de eficiência com o hidrogênio tendem a ser maiores do que com as baterias.
Uma maneira ainda bem cara, mas promissora de produzir hidrogênio está sendo desenvolvida pela universidade de Tóquio, com o apoio da Toyota e da Mitsubishi. A matéria do Valor conta que a ideia é desenvolver algo parecido com a fotossíntese para separar o oxigênio do hidrogênio na água.



Os cinquenta tons de verde dos investimentos em ESG
Palavras como “verde” e “sustentável” são rótulos vagos o suficiente para fundos e bancos oferecerem produtos ESG para uma demanda crescente de pessoas e empresas querendo mostrar responsabilidade. Há muita venda enganosa - às vezes criminosa, às vezes apenas pouco transparente - o que pode levar o mundo ESG para uma crise de credibilidade inédita.
Uma matéria do Financial Times fala de uma diretora de negócios que escolheu uma plataforma de investimentos oferecendo sua carteira de papéis verdes. Ela descobriu, depois, que a maior parte do portfólio era composta de ações de bancos e não, como esperava, de empresas que desenvolvem energia limpa.
Estima-se que haja no mundo todo quase US$ 3 trilhões em papéis pintados com 50 ou mais tons de verde espalhados por quase 6.000 fundos, ¾ deles baseados na Europa. Uma pesquisa feita no ano passado olhou para quase 600 fundos de equity que se apresentavam como aderentes aos princípios ESG. Mais de 400 deles não estavam alinhados com as metas do Acordo de Paris.
Este é um mundo novo, que precisa de regras claras e aceitas no mundo todo. Enquanto o mundo financeiro tiver amplo espaço para definir seus próprios atributos, muitos irão comprar gatos pardos por lebres verdes.

Em tempo: Cinco grandes corporações energéticas europeias estão processando quatro países por criarem obstáculos para projetos de carvão, petróleo e gás em nome do combate às mudanças climáticas. Holanda, Itália, Polônia e Eslovênia enfrentam ações no valor de quase € 4 bilhões que aproveitam brechas em suas legislações. A poderosa RWE alemã diz que entende a importância da transição energética, mas quer ser ressarcida pelos prejuízos causados pelas políticas desses países. A notícia vem pelo Financial Times. Estas empresas estão entre as principais responsáveis pelo aquecimento global e querem ser compensadas pelo fechamento de suas plantas quando deveria ser o contrário - elas deveriam ressarcir a humanidade pelos danos que causaram.


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