o poema visual e as experimentações na linguagem
Os poetas de vanguarda abriram novas veredas para a poesia, fazendo valer para o poema a sua visualidade e dinâmica, como queria Mallarmé. Em 1956 no Brasil, 60 anos atrás, era lançada a Poesia Concreta. O poeta percebeu a importância de outros signos além da palavra. A linguagem verbal não se tornou indispensável, mas a rapidez da informação e da comunicação no mundo da atualidade rompeu com os sistemas lineares. Depois do movimento da Poesia Concreta, liderados pelos irmãos Campos (Augusto e Haroldo) e Décio Pignatari e de alguns outros movimentos como o neo-concretismo e o práxis surge o poema/processo que leva à radicalização total a visualização: a palavra some do poema, ficando apenas os sinais.
Ao poeta compete a invenção de novas grafias, novos códigos que superar a ordem alfabética, propor novas leituras como estratégia para adulterar o autoritarismo da linguagem. Sem excluir outras possibilidades da palavra, poesia visual se utiliza de recursos gráficos, de tendência geométrica, caligramática ou ideogramática.
O poema de processo – diz Wlademir Dias Pino, precursor do movimento (A Ave 1956, Sólida 1966) -, sob esta condição, não está preocupado com o estado poético, como fator de maiores estudos, nem mesmo com a experimentação lingüística; mas tem o propósito de deixar bem claro que essa separação mostra, de maneira indiscutível, que o poema é físico – até mesmo total – em sua visualidade gráfica, enquanto que a poesia é puramente abstrata. Tanto assim é que é comum a expressão poesia de arquitetura.
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poemas visuais - ALMANDRADE - década 1970
Em 1972, na Bahia, Almandrade, estudante de Arquitetura, artista plástico, poeta, aparece com seus objetos-poemas na página Gente Jovem pede Passagem do Jornal da Bahia. A grande riqueza visual aliada à semântica da proposta fazem de Almandrade um dos mais criativos operários da linguagem.
O poema pode ter ou não ter palavra (dispensável mas não abandonada), o que interessa é a visualização do projeto, a criação de um processo, isto é, possibilidade de transformação, manuseio, mudança.
A cada nova experiência, o poema inaugura processos informacionais. Essa informação pode ser estética ou não: o importante é que seja funcional e, portanto, consumida. No poema/processo importa a estrutura. Manter uma estrutura em aberto, em constante relacionamento de suas partes, para que o objeto estético seja mostrado por dentro, em seu processo.
O experimentalismo na linguagem não se esgota, enfatizar os aspectos plásticos e estruturais do poema, retirar a primazia da palavra na criação poética passou a ser uma meta dos poemas experimentais. A criação e / ou utilização de novos signos, e a contribuição para o desenvolvimento da comunicação no mundo contemporâneo. A Poesia Visual, enquanto linguagem que se insere em suportes múltiplos, chegou ao novo milênio reinventando-se, diversificando seus suportes e estabelecendo diálogos com as mais diversas modalidades expressivas, no cenário brasileiro e internacional.
A Baró Galeria presta uma homenagem aos 60 anos da Poesia Concreta com esta mostra de poesia visual idealizada por Almandrade, composta de poetas e artistas que vem contribuindo com a experimentação e a visualização da poesia: Arnaldo Antunes, Gastã o Debriex, Gil Jorge, João Bandeira, Júlio Mendonça, Lenora de Barros , Lula Wanderley, André Vallias, Omar Khouri, Paulo Miranda, Regina Vater, Walter Silveira, Tadeu Jungle e Xico Chaves e o próprio Almandrade.
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Experimentação e Visualidade na Poesia
Até 22 de outubro de 2016
Baró Galeria
Galpão
Rua Barra Funda, 216
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