Posted: 04
Jun 2020 01:23 PM PDT
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Capa de L'Amour: 12 oz de Luciano Salles. Cores
por
Marcelo Maiolo
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Olá, como vai?
Pode parecer estranho que eu, como
autor, faça uma postagem para esmiuçar uma história em quadrinhos que escrevi
e desenhei em 2014. Faço por vários pedidos que recebi nesse intervalo de
quase seis anos desde a publicação e por ter recebido novamente essa
solicitação, mas para escrever aqui no blog.
Algumas coisas já comentei em
entrevistas e por isso mesmo, posso soar redundante. Minha intenção não será
explicar a obra – outra demanda para que sou solicitado –; é claro que não
farei isso!
Porém, acho que posso trazer pormenores que agrade quem aprecie essa história
em quadrinhos, que tem por premissa básica duas histórias de amor que
acontecem ao mesmo tempo 1) de um antigo pugilista e seu moribundo marido, 2)
ao mesmo tempo que é narrado o início de uma outra história de amor que
acontece com sua neta (isso não é spoiler apesar de muitos
leitores não perceberem esses fatos).
A
origem de L'Amour: 12 oz (lê-se L'Amour, doze onças)
Como sempre acontece, o ato de
observar (pra mim) é a fagulha para criar uma história (ou mesmo um desenho
qualquer) e em L'Amour: 12 oz não foi diferente; uma
xícara de café quente foi fundamental para conceber todo conceito que a
trama carrega.
Devia ser perto das 5 horas da manhã,
já havia tomado meu banho matinal (penso que seria muito mais fácil fazer
isso gravando um vídeo do que digitando) e estava na cozinha passando o
primeiro café para começar o dia. Até então, tudo estava rotineiramente ordenado
e sincronizado com meu ritual que precede o começar a trabalhar. Me servi de
uma xícara dupla (sem açúcar) e fui para o estúdio.
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L'Amour: 12 oz de Luciano Salles
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Sentei na mesa onde trabalho e meu
olhar se fixou na xícara com o líquido escuro que ainda devia estar perto de
uns 80ºC. Me peguei refletindo que eu gosto de tomar café naquela temperatura
(bem quente); dou uma "bicadinha", vou tomando enquanto a temperatura
vai diminuindo naturalmente de acordo com o passar do tempo. Mesmo depois de
15, 20 minutos, o café que ainda sobra já perdeu muita energia de seu calor
para o ambiente, entretanto continuo gostando do café tanto quanto quando
enchi minha xícara com ele.
O que relatei foi a ignição para a
história de L'Amour: 12 oz. Independente de quanto tempo tenha
passado do primeiro ao último gole, eu adoro café. Quente, morno, perdendo
calor para o ambiente ou mesmo frio, ali está algo que me faz bem, alimenta
minha alma; algo que gosto, adoro, que amo.
Percebeu que eu tinha um material
rico o suficiente para contar uma história de amor?
A
história e personagens
Ainda degustando e com a observação
agora transformada em reflexão, comecei a montar a narrativa em cima de
temperaturas opostas de uma boa e verdadeira xícara de café (sem açúcar).
Como disse logo acima, amo ele quente e amo – de um modo diferente –, ele em
outra temperatura, independente do trabalho entrópico.
As duas histórias de amor foram
consequências naturais para o café super quente e bem mais frio, ou seja, o
amor estava ali em dois momentos diferentes e não menos importantes. Os
personagens, da mesma maneira, se moldaram a partir da passagem do tempo em
relação à amplitude térmica.
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L'Amour: 12 oz de Luciano Salles
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O pugilista, seu marido, a neta do
pugilista e seu pretendente (que corre durante todo desenrolar da narrativa),
estavam em minhas mãos e eu sabia o que fazer. Eu queria o máximo da
virilidade masculina e tinha no pugilista, queria o café frio, inerte, o último
gole da xícara e tinha no esposo de ex-atleta, eu queria o café fervendo e
tinha isso na neta conhecendo a possibilidade de amar e queria o tempo
correndo, que serviu precisamente no pretendente vestido de tênis e meias
altas.
Nenhum personagem possui nome. Essa foi uma opção narrativa pois não queria
identificar nada e prol de justificar o sentimento ali trabalhado. Também não
é revelado onde tudo ocorre, em que tempo e momentos.
A
trama
Tendo tudo o que já possuía, o
desenrolar da narrativa fluiu sabendo que tinha que observar em todas as
páginas, o tempo cronológico ali cravado, visível, como que cronometrando o
início e o final da leitura, afinal, tudo o que começa invariavelmente
termina. O fato de existir um determinado fim, não significa a morte dos
reais sentimentos envolvidos, e de certa forma, ainda existem em modulações
diferentes.
L'Amour: 12 oz encontra-se esgotada. Foi publicada em 2014 pela editora
MINO que a teve como debut de seus lançamentos.
Seu comentário é sempre muito
bem-vindo e será respondido.
Um abraço.
Luciano Salles.
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