"Estranho", de Iaco Viana
Exposição na Galeria TATO discute o espaço e o suporte da “street art”
As ruas da cidade de São Paulo são vias de comunicação. Espaços de fluxo de pessoas, elas também são canais para a apresentação de imagens. Pelo menos desde meados da última década de sessenta, muros e paredes públicos foram ocupados com manifestações de protesto ou frases e palavras poéticas. No transcorrer dos anos seguintes, as figuras se associaram a já existente prática da escrita. Desde então, a exemplo de outros grandes centros urbanos, tais como Berlin e Nova York, lambe-lambes, stickers, desenhos, palavras e pinturas proliferam-se pelas ruas da capital paulista. Dotadas de um sentido do imediato, da apreensão rápida e de sintonia com a velocidade do olhar em trânsito, as manifestações dastreet art se configuram sobre um repertório de imagem visual: cores vibrantes, traços definidos, tendência à planura e economia de elementos figurados. No que tange ao sentido criado por essas manifestações, a contextualização delas no espaço urbano é na maioria das vezes determinante. Tendo em vista esses pressupostos, a presente exposição visa tensionar o problema do espaço de apresentação dessas imagens e destacar a força de seu aspecto visual mesmo quando deslocadas do ambiente das ruas para os espaços fechados vinculados à circulação da arte. Dessa forma, a imagética da street art continua a oferecer possibilidades de criação ainda que migre de muros e paredes para suportes como o papel, a tela ou torne-se uma peça tridimensional. Ao se prolongar as pesquisas artísticas para além do espaço público, poéticas individuais pautadas na força da imagem e da escrita aprofundam-se e novas formas de recepção dessas imagens são estabelecidas.
Paulo Trevisan
ARTISTAS
IACO - com uma caligrafia particular, palavras e neologismos são disseminados pela superfície de paredes, tapumes, orelhões, muros etc. Um sentido visual de horizontalidade que se expande no ritmo do passante acompanha a construção irônica e bem humorada desses ditos. A rapidez do gesto caligráfico é mantida na configuração de dinossauros que irrompem em sítios diversos da urbe.
SOCIDAS MAKFLAY - pássaros, sapos, e outros animais humanizados ou fazendo uso da indumentária atual são produzidos pelo artista em suas intervenções pela cidade. Marcados, muitas vezes, pela cor clara e esverdeada, esses personagens associados à lua, ao mar, ou a quedas d`água inspiram um contraponto crítico à dura rotina da vida diária das cidades e anunciam um campo de possibilidades para uma existência mais integrada ao mundo natural.
LUIZ83 - uma das características da escrita no ambiente público da cidade é sua metamorfose em imagem. Exemplo primoroso dessa prática, o artista transfigura letras e palavras em volumes gráficos, abstrações de design refinado, choques contrastantes entre claro e escuro e inconfundível dinamismo rítmico. Esse adensado de um espectro de caos meticulosamente ordenado pelo desenho pode ser uma síntese das experiências múltiplas e sobrepostas que temos constantemente ao experienciarmos a metrópole.
MAURO NERI - a ativação do entorno é uma das tônicas na produção do artista que ao difundir pela cidade suas imagens e dizeres recontextualiza espaços e resignifica a escrita. Palavras ora combinadas, ora divididas tecem observações sobre o modo como operamos nossas vidas em suas rotinas. O ato de olhar é convocado para instigar uma nova percepção dos ambientes e uma postura crítica é evocada para nossas ações.
KALEB (Alex Romano) – a serenidade e o clima onírico são aspectos despertados ao nos depararmos com as figuras de seres voadores que se espalham pela capital paulista. Sintéticos na aparência, esses personagens são extremamente eficientes ao imprimir ritmo e alegria nas suas posições de mergulho no ar, danças espiraladas ou saltos rumo ao céu. Quando transpostos para o tridimensional, esses seres que se alongam não deixam esses aspectos se perderem e, pelo contrário, ganham nova graça.
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