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Feminismo na periferia. Mikki Kendall. Trad. Camila Javanauskas • Rua do Sabão • 304 pp • R$ 60/29A ativista norte-americana Mikki Kendall faz uma análise crítica do feminismo da classe média branca, que não presta atenção às necessidades básicas das mulheres marginalizadas em razão de sua classe social, de sua cor ou de sua orientação sexual. A partir de sua própria experiência com fome, violência e hipersexualização, Kendall sustenta que as diretrizes do movimento feminista não podem ser dadas pelos desejos das mulheres brancas, cuja liberdade se apoia na mão de obra barata das mulheres não-brancas. Trecho do livro: “Quando a retórica feminista é enraizada em vieses racistas, capacitistas, transmisóginos, antissemitas e islamofóbicos, automaticamente ela funciona contra mulheres marginalizadas e contra qualquer conceito de solidariedade. Não é o bastante saber que mulheres com diferentes experiências existem, é necessário entender que cada uma delas tem o seu próprio feminismo, formado por suas experiências.” Leia também: Livros expõem a hierarquia branca dentro do movimento feminista e as consequentes exclusões de mulheres fora desse padrão. |
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Feminismo míope
Há um ponto cego no movimento feminista contemporâneo: ele não incorpora devidamente questões de raça, classe e orientação sexual. É o que expõe a ativista Mikki Kendall em Feminismo na periferia, que chega nesta semana às livrarias brasileiras. Kendall destaca que o feminismo dominante — o branco, de classe média — não leva em conta questões como fome, violência, hipersexualização e falta de moradia. “A abordagem ʽtamanho únicoʼ no feminismo é prejudicial porque aliena exatamente as pessoas que deveria proteger, e não oferece nenhum tipo de apoio a elas”, observa. Ser feminista não é apenas uma identidade, é também — e principalmente — uma ação.
Completam a seleção da semana romances da coreana Sarah Ahmed e do tanzaniano Abdulzarak Gurnah — ganhador do Nobel em 2021 —, poemas sobre a escravidão brasileira, um ensaio de Betty Milan sobre envelhecimento e morte, a curiosa história do mosquito e reflexões sobre o poliamor. Viva o livro brasileiro! |
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Viver uma vida feminista. Sarah Ahmed. Trad. Jamille Pinheiro Dias, Sheyla Miranda, Mariana Ruggieri • Ubu • 448 pp • R$ 99O terceiro romance da escritora coreana Sarah Ahmed descreve vivamente as desigualdades de gênero na Coreia do Sul ao expor a imensa diferença de tratamento entre os gêneros desde a infância. Ainda pequena, Kim descobre como é desfavorecida em relação a seu irmão mimado, tanto por seus pais quanto por seus professores. Ao se tornar adulta, sofre muito bullying, mas não recebe compreensão nem apoio do pai. Sofre também com as cobranças do marido, que exige que ela abandone seu emprego para cuidar da filha recém-nascida. Diante disso, Kim começa a se comportar de modo tão estranho que é aconselhada a procurar um psiquiatra, a quem conta sua história. Leia também:Livros de Silvia Federici e de Patricia Hill Collins e Sirma Bilge mostram a importância de discutir gênero para a luta política.Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da editora Ubu. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais. |
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Sobrevidas. Abdulrazak Gurnah.Trad. Caetano W. Galindo • Companhia das Letras • 336 pp • R$ 74,90O romance do escritor tanzaniano Abdulzarak Gurnah, ganhador do Nobel de 2021, tem como pano de fundo os traumas provocados pelo domínio europeu na África. No início do século 20, quase uma década depois que a Alemanha invadiu a Tanzânia, um contador e sua mulher tentam ter seu primeiro filho no litoral, onde conhecem africanos que tinham sido arrancados de suas famílias para servir nas tropas coloniais em um momento em que a Alemanha estava empenhada em sufocar uma rebelião no interior (que deixou 300 mil mortos). Gurnah descreve as dificuldades desses personagens em meio às atrocidades do período entreguerras. Leia também: Muryatan Barbosa expõe o trabalho intelectual para definir a identidade africana e construir uma sociedade pós-colonial. Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da editora Companhia das Letras. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais. |
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A escravidão na poesia brasileira: do século 17 ao 21. Alexei Bueno (org.)Record • 714 pp • R$ 89,90Organizada pelo poeta, tradutor e ensaísta carioca (autor de Uma história da poesia brasileira), essa antologia reúne mais de duzentos poemas de 81 escritores, entre eles Machado de Assis, Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Castro Alves, Cruz e Sousa, Oswald de Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Ariano Suassuna. Eles abordaram a questão da escravidão negra e seus efeitos na esfera pessoal, como o exílio forçado, a travessia atlântica, as sevícias físicas, a separação das famílias, a profanação das mulheres, a exploração dos mais velhos, o túmulo dos escravos. Trecho de “A escrava”, de Sousândrade: “Oh! não digam que eu venho ao astro pálido/ Minha sorte chorar... eu tenho inveja/ Da branca, porque tem todas as horas/ Do dia todo inteiro!/ Eu sou bela também, minha alma é pura,/ Mais do que ela talvez... cansa o meu corpo/ Somente o cru servir, nervosos medos/ E o delírio da morte...”. Ouça também: No podcast 451 MHz, autores de livros sobre escravidão no passado e no presente falam sobre esse problema persistente e as possibilidades de superá-lo. Assinantes da Quatro Cinco Um têm 30% de desconto no site da editora Record. Conheça o nosso clube de benefícios, que dá descontos em livros, eventos e produtos culturais. |
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O mosquito: a incrível história do maior predador da humanidade. Timothy C. Winegard. Trad. Leonardo Alves • Intrínseca • 608 pp • R$ 69,90/46,90 O historiador e cientista político Timothy Winegard explica a importância dos mosquitos na evolução da humanidade como transmissor de diversas enfermidades (malária, febre amarela, febre do Nilo, zika, dengue), que mataram bilhões de pessoas e tiveram uma influência decisiva no destino de nações e impérios desde a Antiguidade: a ascensão do Império Romano, a difusão do cristianismo, o colapso do Império Mongol, o surgimento da Grã-Bretanha, o desfecho da Guerra Civil Americana e a derrota do exército francês na Revolução Haitiana. O autor reúne também informações curiosas sobre os mosquitos, como a razão pela qual o gim-tônica era o drinque preferido dos colonizadores britânicos na Índia e na África. |
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O desafio poliamoroso. Brigitte Vasallo.Trad. Mariana Bastos • Pref. Geni Núñez • Elefante • 238 pp • R$ 60A escritora e ativista espanhola Brigitte Vasallo investiga a centralidade da monogamia em nossa vida afetiva a partir de uma perspectiva feminista, antirracista e anti-LGBTfóbica. O livro explica a estrutura do sistema monogâmico, que cria um padrão de “amor romântico” ao estilo de contos de fadas e, partir daí, define o status hierárquico de cada relacionamento amoroso (esposa, amante, namorada, amiga, colega etc.). Ela observa que a infidelidade constitui parte essencial desse sistema e destaca as consequências políticas desse exclusivismo na esfera subjetiva (como violência doméstica e feminicídio). Vasallo desmascara a monogamia disfarçada que se oculta em relacionamentos aparentemente abertos, mas que seguem presos à noção de exclusividade social. Leia também: Em primeiro livro de sua trilogia sobre o amor, bell hooks defende que amar é um ato político revolucionário. |
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Pretagonismos. Rodrigo França e Jonathan Azevedo (org.)Agir • 384 pp • R$ 68,9027 autores e autoras de artistas e intelectuais negros de diferentes áreas escrevem sobre suas trajetórias, potencialidades e reflexões sobre o presente e o futuro. Discutem, entre outros temas, o racismo e a identidade nacional, a negritude no divã, os desafios das transmasculinidades negras, o macumbapunk e o afrofuturismo, o legado de Marielle Franco, a experiência teológica e política de um pastor negro e a ciência e o academicismo como cúmplices do racismo estrutural. O livro traz textos de Anielle Franco, Eliana Alves Cruz, Elisa Lucinda, Henrique Vieira, Katiúscia Ribeiro, Marco Rocha, Valéria Barcellos e William Reis, entre outros. Leia também: Conheça doze livros para educar crianças sobre racismo e identidade negra. |
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