Inédita no Brasil, peça de Philippe Minyana
estreia com direção de Francisco Medeiros
O tempo e as memórias da vida permeiam toda a obra que conjuga humor e anarquia, sensibilidade e ironia.
O espetáculo Do Amor - texto contemporâneo e inédito no Brasil do dramaturgo francês Philippe Minyana - estreia no dia 3 de setembro, quintafeira, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, às 20 horas, com direção de Francisco Medeiros. A tradução é assinada porAmanda Banffy. A Oficina pertence à Secretaria de Estado da Cultura, sendo gerenciada pela Organização Social Poiesis (Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura).
Com extrema sensibilidade, o autor mostra a passagem do tempo na vida de dois casais, desde a juventude até o fim da vida, destilando nas entrelinhas uma ironia ferina, temperando tudo com um humor mordaz e impiedoso. Os acontecimentos ordinários da vida, como amor, envelhecimento e morte, são questões fundamentais à obra. Os personagens Christina, Bob, Ted e Mylène são figuras mutantes, múltiplas, contraditórias. Não há caracterizações físicas e a interpretação é revezada pelos casais de atores Amanda Banffy e Carlos Baldim, Gustavo Duque e Laís Marques.
O diretor argumenta que Minyana faz uma espécie de arqueologia da memória. “Ele escreve como se fizesse escavações; retira elementos da memória e os combina de forma não linear para compor uma figura não homogênea”. A disposição desses elementos, de forma fragmentada e pouco nítida, propõe um novo encaixe para essa figura de lembranças. “Minyana nos apresenta uma visão de mundo ilegível, com linhas borradas aos olhos cotidianos”.
Do Amor conduz o espectador pela vida dos dois casais: em sua sala, nas montanhas, no verão, com os amigos, nas adversidades, aos 30 ou 70 anos. Ora eles têm um ar sério e empolado como pessoas em luto, ora são adoráveis velhinhos. É possível observar suas vidas sem glórias pelos ritos inevitáveis como funerais, reuniões, aniversários. Suas vidas comuns se tornam uma espécie de epopeia, mistério secular, onde o amor é consolo ou derrota ou mesmo uma idéia que os assombra. A memória funciona como intuição de futuro, leitura presente e registro passado. A arquitetura do texto aponta também para uma memória que pode ser construída de imaginação, sob o ponto de vista alegórico que emerge da experiência de estar vivo. As cenas enigmáticas podem ser fragmentos de sonho, delírio, pesadelo ou divagação.
A linguagem dramatúrgica de Philippe Minyana em Do Amor explora a palavra cotidiana e a transforma em teatro épico. A banalidade da ficção e do discurso é reforçada por um dispositivo textual original. Além do texto dos atores, as rubricas descritivas e poéticas (sobre tempo, silêncio, pássaros) são ditas por um comentarista, chamado Voz Off, e as rubricas narrativas por outro, denominado Texto. Faladas por todos os atores, em revezamento, essa rubricas divagam sobre a atitude dos personagens contradizendo-os ou se reportando ao interlocutor. Esses diálogos polifônicos criam discrepâncias, oposições e rupturas particularmente ricas e fantasiosas.
Segundo Francisco Medeiros, Minyana é um experimentador. “Do Amor Foi escrito sem pontuação para que os atores possam também experimentar a pontuação, a pulsação do texto, e descobrir sua musicalidade, seu ritmo”. Ele ainda explica que o processo de montagem é pleno desafio na busca por uma linguagem cênica nova e autêntica para esta obra.
A cenografia (Heron Medeiros), a iluminação (Igor Sane), o figurino (Marichilene Artisevskis) e a trilha sonora (Dr. Morris) têm papel fundamental na encenação de Francisco Medeiros, sendo agentes de configuração que, magicamente, expõem as diversas dimensões e profundidades que a peça aborda. O diretor acata o desafio da obra de Minyana que propõe uma estética enigmática, uma plasticidade que explora o espaço e flerta com as artes visuais. O cenário é calcado em uma caixa retangular, com uma espécie de ciclorama ao fundo e espelhamentos na frente e nas laterais. A cenografia se presta às imagens sugeridas pelo texto que passam por texturas turvas ou cristalinas, transparências ou reflexos, duplicações e nebulosidades.
Para o diretor, Do Amor não é uma peça para, necessariamente, ser compreendida com começo, meio e fim. “Os estilos épico, dramático e lírico são combinados de forma anárquica tanto nos fatos quanto na estrutura. A encenação, portanto, precisa fazer com que esta anarquia esteja presente com todo o seu rigor”. Convidado pela atriz e produtora Amanda Banffy para dirigir o espetáculo, Francisco Medeiros confessa que foi movido pelo desafio. Após ler o texto declarou: “Não sei o que isto significa. Não entendo, por isso quero fazer”.
Ficha técnica
Espetáculo: Do Amor
Texto: Philippe Minyana
Tradução: Amanda Banffy
Direção: Francisco Medeiros
Elenco: Amanda Banffy, Carlos Baldim, Gustavo Duque e Laís Marques
Assistente de direção e preparação corporal: Fabricio Licursi
Cenografia e adereços: Heron Medeiros
Trilha Sonora: Dr Morris
Figurino: Marichilene Artisevskis
Iluminação: Igor Sane
Direção de produção e administração: Maurício Inafre
Assistência de produção: Mya Morales
Fotos: Flavio Barollo
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Realização: Cacildinha Produções
Co-realização: Banffy Produções Artísticas
Serviço
Estreia: dia 3 de setembro. Quintafeira, às 20 horas
Oficina Cultural Oswald de Andrade (Teatro)
Rua Três Rios, 363 Bom Retiro/SP. Te: (11) 32215558
Temporada: quintas, sextas e sábados, às 20 horas – Até 24/10
Ingressos: Grátis – Retirar 2h antes das sessões.
Duração: 80 min. Gênero: Comédia dramática anárquica. Classificação: 14 anos
Capacidade: 40 lugares. Ar Condicionado. Não possui acessibilidade.
IMAGENS
Eliane Verbena / João Pedro
Eliane Verbena
(11) 2738-3209 / 99373-0181
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