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PAÇO DAS ARTES


Eu fui o que tu és, e tu serás o que eu sou / The fourth wall

ABERTURA
04 outubro, 2012 - 19h30
VISITAÇÃO
05 de outubro a 02 de dezembro de 2012
terças a sextas, das 11h30 às 19h;
sábados e domingos, das 12h30 às 17h30

Grátis
CURADORIA
Eu fui o que tu és, e tu serás o que eu sou: Josué Mattos
ARTISTAS PARTICIPANTES
Albano Afonso, Bill Viola, Brígida Baltar, Bruno Kurru , Caetano Dias , Charly Nijensohn , Clemens von Wedemeyer, Daré, Evandro Machado, José Rufino , Karina Zen , Marina Abramovic, Odires Mlászho, Oscar Muñoz, Tamara Andrade , Vasco Araújo, Vitor Mizael
O Paço das Artes inaugura duas exposições com grandes nomes da arte contemporânea nacional e internacional em outubro. Eu fui o que tu és, e tu serás o que eu sou, curadoria de Josué Mattos, e The fourth wall (A quarta parede), feita em parceria com o Goethe-Institut.

“Eu fui o que tu és, e tu serás o que eu sou”, frase que dá nome à exposição, aparece em La Trinità, de Masaccio, umas das pinturas mais representativas do Renascimento Florentino. Trata-se da primeira obra bidimensional a assimilar o espírito investigador da perspectiva linear concebido por Filippo Brunelleschi na arquitetura e pesquisas relacionadas à complexa existência humana – assuntos que ocuparam as classes artísticas e intelectuais da época.

Com curadoria de Josué Mattos, Eu fui o que tu és, e tu serás o que eu sou abrange pintura, instalação multimídia, escultura, desenho, fotografia e videoperformance. As obras que compõem a exposição exploram as relações conflituosas entre o homem e a morte e proporcionam ao público a possibilidade de ver a História da Arte surgir na produção contemporânea destituída de citacionismos.

Obras dos artistas Albano Afonso, Bill Viola, Brígida Baltar, Bruno Kurru, Caetano Dias, Charly Nijensohn, Daré, Evandro Machado, José Rufino, Karina Zen, Marina Abramovic, Odires Mlászho, Oscar Muñoz, Tamara Andrade, Vasco Araújo e Vitor Mizael compõem a mostra.

Já The fourth wall (A quarta parede), é uma grande instalação com projeções e fotografias, elaborada pelo artista alemão Clemens von Wedemeyer. Como o nome sugere, The fourth wall explora o conceito da quarta parede, divisória imaginária situada na frente do palco do teatro que permite ao público acreditar que o que eles assistem é real. Na obra de von Wedemeyer, a quarta parede é comparada, metaforicamente, a uma divisória imaginária que separa diferentes grupos de pessoas até seu primeiro contato. À medida que as histórias apresentadas se desenvolvem, a distinção entre ficção e realidade se torna cada vez mais turva e a quarta parede, a tênue linha entre crença e descrença, é desafiada.

O seminário Políticas da imagem completa a programação da exposição. Com curadoria e mediação de Graziela Kunsch, os convidados debatem questões de representação, autorrepresentação e colaboração e refletem sobre como é construída a imagem dos ameríndios na sociedade brasileira contemporânea. O evento acontece no dia 24 de novembro, sábado, a partir das 15h, com o debate Representação do "outro", com as convidadas Beatrice von Bismarck e Paula Morgado. A programação segue, após pausa para um café coletivo, às 16h30, com o debate Relação com o "outro", com as convidadas Shirley Krenak e Rosângela de Tugny.

Serviço
EU FUI O QUE TU ÉS, E TU SERÁS O QUE EU SOU | THE FOURTH WALL (A QUARTA PAREDE)Abertura dia 04 de outubro, quinta-feira, às 19h30

Visitação entre os dias 05 de outubro e 02 de dezembro
Terças a sextas das 11h30 às 19h30
Sábados e domingos das 12h30 às 17h30
Grátis

THE FOURTH WALL: SEMINÁRIO POLÍTICAS DA IMAGEM
Dia 24 de novembro, sábado, a partir das 15h
Grátis

TEXTO DE JOSUÉ MATTOS

Eu fui o que tu és e tu serás o que eu sou tem por interesse aproximar parte da 
produção artística contemporânea com o Renascimento florentino, enunciando 
precisamente a noção de finitude do corpo presente no registro inferior do afresco 
La Trinità (1425-26), de Masaccio, de onde foi extraído o título da exposição. 
Ainda que o humanismo renascentista tenha sido uma empresa periférica por 
conta do teocentrismo dissimulado que, governado pelo clero, determinava parte 
considerável da produção simbólica, a  representação do corpo, os preceitos da 
arquitetura de Filippo Brunelleschi e a frase em latim na obra de Masaccio 
permanece uma tentativa de  emergir o pensamento antropocentrista que 
mobilizava artistas e pensadores a resgatar valores do mundo antigo. Em meio a 
uma cena iconográfica tradicional, um morto-vivo se dirige ao humano que o vê, 
deixando claro com sua afirmação “e tu serás o que eu sou”, que ele também é 
visto. Percebida como um organismo vivo, a morte deixa de ser o instante 
derradeiro em que a  possível danação, em consequência ao  Julgamento Final
veiculado durante a Idade Média, encaminha o sujeito ao inferno eterno. Sendo 
ritmada pela passagem do tempo, ela passa a ser percebida no mundo 
contemporâneo como parte da vida e não seu fim inextricável. É a morte diária 
anunciada por Sêneca a Lucilius em sua primeira carta: “qual é o homem que 
compreende que ele morre a cada dia?”
Neste quadro, a iconologia  – apresentada em 1912 pelo historiador da arte Aby
Warburg  – é o exercício capaz de avaliar, em diferentes períodos da história e 
horizontes biopolíticos, a maneira  pela qual os artistas se aproximam da 
representação da morte. Tencionando a dialética do  memento mori – tabu no 
mundo contemporâneo –, em muitos casos os artistas lidam com a experiência de 
finitude, travando diálogo consigo mesmos. É o eu-histórico falando ao eu-psíquico 
e vice-versa. Daí a parcela significativa de autorretratos na exposição.  Fazendo 
alusão à transformação do corpo, alguns artistas o associam a uma imagem 
impessoal: matéria orgânica, espelho, molde, vestimenta, vísceras. Trata-se de 
antecipar a imagem de post mortem e, como linguagem poética, torná-la uma linha 
de fuga capaz de desvirtuar a melancolia na qual está calcada, em grande parte, 
nossa relação com a vulnerabilidade do eu.
A genealogia, o náufrago, a instituição do poder e a figura do inquisitivo tornam 
visível a relação dos artistas com a história, abordando-a como a sucessão de 
eventos fragmentados que registram a incompletude do sujeito. Há também no 
nefasto, e no relativismo em torno das etapas da vida presentes em algumas obras, 
a sensação de que  a impermanência  e desaparecimento do eu não estão
necessariamente relacionados ao tempo ou à morte fisiológica. Apesar do vasto 
campo compactuado pelos artistas, é fato que, à primeira vista, o título da 
exposição pode ecoar o tom catequético presente na obra que até hoje é 
conservada na igreja Santa Maria Novella, em Florência. Contrária  a essa leitura 
rápida, a aproximação de tempos díspares e a ressignificação de um cânone da 
história da arte por artistas contemporâneos suscitam antes a  necessidade do 
confronto entre o presente e a história, sobretudo no que tange à apreensão de 
questões ontológicas. 
Josué Mattos

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