Uma leitura diária dos muitos assuntos relacionados como mudanças climáticas 20 de abril de 2022 Desmatamento em Terras Indígenas representou menos de 2% do total dos últimos 30 anos Um levantamento feito pelo MapBiomas reforçou a importância dos Povos Indígenas e da demarcação de suas Terras para a preservação das florestas. Nas últimas três décadas, mais de 69 milhões de hectares de vegetação foram perdidos pelo desmatamento, mas apenas 1,1 milhão desse total foram observados em áreas indígenas, o que representa 1,6% do total. Em compensação, nas áreas privadas, a perda de vegetação representou mais de 68% do total desmatado no país, o equivalente a 47,2 milhões de hectares de vegetação suprimida. “As Terras Indígenas são barreiras contra o avanço do desmatamento na Amazônia. Elas são as áreas mais protegidas no Brasil e a maior parte do desmatamento ocorre em áreas privadas”, disse Julia Shimbo, pesquisadora do IPAM e do MapBiomas, citada por Estadão e O Globo. “Teríamos um cenário muito pior [se o desmatamento em TIs seguisse o mesmo comportamento]. Os Povos Indígenas dependem dos recursos da floresta e os utilizam, por isso têm interesse em mantê-la em pé”. O contraste entre o desmatamento em áreas privadas e em Terras Indígenas fica ainda maior quando consideramos a extensão dessas categorias fundiárias no Brasil: as áreas demarcadas ocupam apenas 13,9% do território nacional, o que corresponde a 19,5% da vegetação nativa do país. O cenário apontado pelo MapBiomas traz motivos para preocupação: dados do INPE mostram que o desmatamento nas áreas indígenas se multiplicou por 1,7 na média dos últimos três anos em comparação com os números observados entre 2016 e 2018. Isso é reflexo direto do avanço do garimpo: a área ocupada pelos garimpeiros cresceu cinco vezes desde 2010, principalmente nos territórios Kayapó (7,6 mil ha), Munduruku (1,5 mil ha) e Yanomami (414 ha).CBN, CNN Brasil, Folha, Jornal Hoje (TV Globo) e Projeto Colabora, entre outros veículos, também deram destaque aos dados do MapBiomas.
Indígenas pedem proteção contra represálias de garimpeiros no Pará Os indígenas da Terra Xipaya, no Pará, estão pedindo às autoridades públicas do estado e da União proteção contra possíveis retaliações de garimpeiros criminosos que tentaram invadir a reserva na semana passada. O temor ficou ainda maior depois de a Polícia Federal liberar cinco pessoas detidas na RESEX Riozinho do Anfrísio junto com uma balsa. Segundo os policiais, as dificuldades de acesso à área não permitiram a prisão em flagrante. Ao invés de serem presos, os garimpeiros foram escoltados para fora da Reserva. A Folha destacou o pedido dos Xipaya e o apoio da deputada federal Joenia Wapichana, única indígena no Congresso Nacional, que cobrou uma presença maior das forças de segurança na área para evitar novos ataques. Já o g1 mostrou a mobilização do Ministério Público Federal (MPF) para pressionar a PF e os órgãos de proteção ambiental da União (IBAMA e ICMBio) por mais fiscalização contra o garimpo em Terras Indígenas. Os promotores lembraram também a situação da Terra Yanomami, uma das mais impactadas pela ação criminosa dos garimpeiros. O g1 também fez um panorama da Terra do Meio, região onde se localiza a Terra Xipaya, formada por um mosaico de áreas de proteção estaduais e federais no centro-sul do estado do Pará. Ainda sobre o garimpo em Terras Indígenas, Caíque Rodrigues e Vanessa Fernandes escreveram no g1 sobre as táticas utilizadas pelos garimpeiros para recrutar indígenas a seu favor na Terra Yanomami. O principal alvo são jovens, inclusive adolescentes, que são atraídos para o trabalho na mineração ilegal em troca de cachaça e armas de fogo. A reportagem destacou também a descoberta da PF de uma fábrica ilegal de armas na região em fevereiro passado.
Atacados pelo governo, indígenas querem proteção de direitos e representação política O dia 19 de abril é conhecido no Brasil como o Dia do Índio. Nas escolas, especialmente no ensino infantil, é comum que este dia seja tratado como uma data folclórica, com fantasias, tinta no rosto e cocar na cabeça. No entanto, para os Povos Indígenas, tal como os outros 364 dias do ano, 19 de abril é dia de luta e resistência contra as forças políticas e econômicas que insistem em atropelá-los e enterrar suas tradições e cultura. “Não temos nada a comemorar nesse dia, porque ainda continuamos cheios de problemas, como invasores das Terras Indígenas, ameaças de mineradoras, governo usando discurso de ódio contra a nossa riqueza, que é o meio ambiente, e os nossos direitos no Brasil”, afirmou o cacique Almir Suruí à CNN Brasil. “A gente tem que lutar. É um dia de resistência em defesa do direito coletivo dos Povos Indígenas”, reafirmou. “Os indígenas são parte fundamental da diversidade étnica do Brasil, do ser brasileiro”, escreveu Míriam Leitão n’O Globo. Com as bênçãos do atual governo, mais interessado no desmonte dos órgãos de proteção socioambiental, “os Povos Indígenas têm sido atingidos de forma mais violenta pela devastação do garimpo, especialmente os Yanomami, Munduruku e Kayapó”. Exatamente por conta dessa situação, lideranças indígenas de todo o país estão se articulando para levar novos nomes para o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas nas eleições nacionais de outubro. Leandro Prazeres trouxe detalhes dessa estratégia na BBC Brasil: a ideia geral das forças indígenas é reduzir a quantidade de candidaturas para focar naquelas que têm condições de se eleger. A estimativa é de que sejam lançadas em torno de 30 candidaturas com a chancela do movimento indígena, sendo a maior parte encabeçada por mulheres. “Agora, nosso foco é a viabilidade eleitoral”, justificou Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que se lançará como candidata à Câmara dos Deputados nas eleições deste ano. Agência Pública, Folha e O Globo também destacaram a movimentação das lideranças indígenas para eleger uma “Bancada do Cocar”.
Especialista critica leilão emergencial de termelétricas durante crise hídrica A suspensão da cobrança extra na tarifa elétrica e a volta da bandeira verde nas contas de luz dos brasileiros levantaram dúvidas sobre a estratégia do governo federal para enfrentar os reflexos da crise hídrica no setor em 2021. Uma das medidas tomadas pelo governo no ano passado, na esteira da crise, foi a contratação emergencial de usinas termelétricas por meio de leilão simplificado, com operação prevista para seguir até a segunda metade do próximo governo, em 2025, a despeito da energia mais cara. Para Rui Altieri, presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), faltou ao governo paciência para esperar por mais certeza quanto às chuvas do verão antes de contratar uma energia mais cara que a hidrelétrica por um período prolongado de tempo. “Quando contratamos essa energia, estávamos na fronteira do período úmido. Acho que deveríamos ter esperado um pouco mais. Talvez se a contratação tivesse sido 30 ou 40 dias depois, a situação seria diferente tanto em preço quanto em volume”, disse Altieri, citado pelo Valor. Essa percepção fica mais evidente quando consideramos que nem todos os projetos termelétricos contratados pela União no ano passado conseguiram iniciar a operação no prazo previsto inicialmente. “A crise hídrica já passou, a geração está tranquila, mas o custo vai perdurar”, concluiu o executivo. Em tempo: A Aliança Brasil-Alemanha para o Hidrogênio Verde está lançando um programa de inovação que busca startups, instituições sem fins lucrativos e empreendedores com soluções potenciais para alavancar o desenvolvimento deste combustível limpo. A primeira chamada do programa tem inscrições abertas até 22 de abril. O Valor deu mais informações.
Instabilidade climática no campo deixa seguradoras no vermelho O vai-e-vem imprevisível do clima nas lavouras brasileiras está cobrando seu custo para as seguradoras. Números destacados pelo Valor apontam que a sinistralidade do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural passou de 84% em 2020 para 125% em 2021, o maior índice desde 2015. Os desembolsos com sinistros somaram R$ 5,4 bilhões, acima dos R$ 4,2 bi que entraram no caixa das seguradoras, deixando-os no vermelho. No ano passado, 121,2 mil produtores rurais buscaram o seguro rural, um aumento de 15% em relação ao ano anterior, sendo que mais de ¼ desse total foi atendido pelo programa pela primeira vez. O governo gastou quase R$ 1,2 bilhão em subsídios para mais de 60 culturas e atividades, com destaque para a soja, o milho de segunda safra e o trigo. Por falar em seguros, Antônio Penteado Mendonça escreveu no Estadão sobre os desafios que as empresas do setor já encaram por conta da intensificação da crise climática e da multiplicação de eventos desastrosos associados ao clima. Nos países ricos, onde a prática do seguro é mais corrente, essa questão ganhou força depois da pandemia e dos repetidos episódios de tempestades, inundações, incêndios florestais e seca na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, nos países em desenvolvimento, onde a indústria dos seguros é menos demandada, o debate ainda está incipiente, o que nos leva a um paradoxo: a despeito de serem mais pobres e mais vulneráveis à crise climática, a maioria esmagadora da população desses países arca sozinha com os custos dos desastres climáticos que ocorrem em suas comunidades. Em tempo: Uma análise do Observatório de Bioeconomia da FGV concluiu que a adesão da agropecuária ao mercado voluntário de créditos de carbono pode trazer benefícios financeiros para o setor. O estudo destacou também o potencial de participação do agro nos projetos de créditos de carbono no Brasil: o mercado nacional ainda é dominado por projetos na área de energia (63%), mas os de agricultura, floresta e outros usos da terra, que representavam 25% do total no ano passado, geram mais créditos. A notícia é do Valor.
Com crise na Rússia, fracking norte-americano encontra novo mercado na Europa As tensões entre Rússia e União Europeia, causadas pela invasão do regime de Vladimir Putin à Ucrânia, abriram um mercado inesperado para a indústria do gás de xisto dos Estados Unidos. Com os governos europeus pressionados a restringir as importações de gás natural russo, o governo norte-americano tem se mobilizado para oferecer a eles uma fonte alternativa, o que tem animado empresas que exploram o gás de xisto na enorme Bacia do Permiano, no sul dos EUA. Mas, como observou a Bloomberg, os impactos ambientais associados à operação da indústria do fracking nos EUA ainda representam um obstáculo na busca pelos consumidores europeus. Por isso, algumas empresas reforçaram medidas de mitigação, como o monitoramento e a obstrução de eventuais vazamentos de metano para a atmosfera. Outro desafio é a infraestrutura necessária para levar o gás norte-americano para o mercado europeu: diferentemente do gás russo, que vem direto das áreas de exploração por gasodutos, o combustível dos EUA é liquefeito antes de ser transportado por navios-tanque até a Europa, o que exige terminais e reservatórios nos portos de embarque e desembarque. O Financial Times também destacou essa questão. Enquanto o gás norte-americano não chega, os países europeus estão vasculhando em suas gavetas para achar fontes alternativas à Rússia no curto prazo. O governo da Dinamarca anunciou nesta 3ª feira (19/4) um plano de contingência energética para ampliar a produção de gás natural no Mar do Norte em 25%. Ao mesmo tempo, a geração por fontes solar e eólica também será priorizada, com o objetivo de quadruplicar o número de plantas geradoras até 2030. AFP (via UOL) e Reuters deram mais informações.
EUA preveem gastar mais de US$ 6 bi com renovação de usinas nucleares O governo dos Estados Unidos apresentou na última 2ª feira (18/4) um plano bilionário para revitalizar dezenas de usinas nucleares em todo o país, com foco especial naqueles que estão sob risco de desativação por conta dos custos econômicos. A fonte de energia nuclear é uma das principais do sistema elétrico norte-americano, responsável pela maior parte da geração renovável no país, mas muitas usinas perderam competitividade e, por isso, podem ser fechadas antes da hora. A ideia da Casa Branca é fornecer crédito a essas plantas, tanto para financiar a continuidade de suas operações como para investir na modernização de sistemas de geração elétrica e de proteção contra radioatividade. A notícia é da Bloomberg. Por falar em energia nuclear nos EUA, algumas usinas termelétricas que hoje operam com carvão estão pensando na conversão de suas estruturas para abrigar pequenos reatores nucleares no futuro. Para as empresas proprietárias dessas plantas, essa alternativa permitiria a continuidade de suas operações após um eventual fim do uso de carvão para geração elétrica. No entanto, essa possibilidade está longe de ser evidente e garantida: além de questões tecnológicas, os custos associados à transformação das termelétricas em nucleares, ainda que de pequeno porte, são incertos - e, muito provavelmente, cairiam no colo dos consumidores, encarecendo a energia. Segundo o Wall Street Journal, lobistas do setor estão procurando parlamentares norte-americanos para avançar com legislações que permitam essa conversão. Enquanto isso, o governo Biden tenta se reposicionar no debate público sobre clima. Depois de ver seus planos climáticos fracassarem no Congresso e ser pressionado por ativistas e aliados políticos, o presidente norte-americano quer reforçar as medidas executivas tomadas pela Casa Branca desde o ano passado para fortalecer os EUA na corrida global pela transição verde. O FT deu as linhas gerais dessa estratégia, que passa também por uma nova rodada de negociações com o Congresso para aprovar trechos do pacote climático antes das eleições legislativas em novembro. Nesse sentido, a Casa Branca confirmou nesta 3ª feira (19/4) a restituição de uma série de regulamentos federais que orientam estudos de impacto ambiental em grandes projetos de infraestrutura nos EUA. Essas regras tinham sido implementadas pelo governo de Barack Obama, mas foram derrubadas pelo negacionista Donald Trump. Com a retomada dessas regulações, o governo Biden quer diminuir parte do mal-estar causado pelo sinal verde dado recentemente a novos projetos de exploração de petróleo e gás natural em terras públicas, medida bastante criticada por ambientalistas. Associated Press, NY Times, Reuters, Washington Post e Wall Street Journal deram mais informações.
Aquecimento a 2oC: copo meio cheio ou meio vazio? Na semana passada, um estudo publicado na revista Nature mostrou que o cumprimento dos objetivos nacionais de mitigação climática, da forma como foram apresentados pelos países na última Conferência da ONU sobre o Clima (COP 26), no ano passado, permitiria à humanidade a contenção do aquecimento global neste século abaixo dos 2oC em relação aos níveis pré-industriais. A notícia foi bem recebida, especialmente depois da cacetada que o IPCC jogou na cabeça da comunidade internacional no começo do mês. O problema é que um eventual cumprimento da meta de 2oC, ainda que importante, continuaria implicando em mudanças climáticas com impactos negativos, especialmente nas áreas mais pobres e vulneráveis do mundo. No Guardian, a ex-secretária-executiva da UNFCCC e uma das arquitetas do Acordo de Paris, Christiana Figueres, refletiu sobre a impressão agridoce deixada por esse estudo. O argumento que ela coloca é pertinente: sim, podemos celebrar esse resultado potencial, mas não podemos sentar em cima dele e esperar que ele aconteça automaticamente. Entre a promessa e a ação, persiste uma grande lacuna de incertezas, inclusive sobre a suficiência da promessa para garantir um clima mais ameno. “A complexidade da crise climática e suas soluções significam que precisamos nos acostumar a manter reações emocionais complexas e buscar soluções complexas. O caminho à frente será cheio de indignação e otimismo”, observou Figueres. “Podemos usar ambos para impulsionar as políticas que sabemos que precisamos: políticas que permitirão que todos os compromissos e promessas de redução de emissões sejam cumpridos não apenas no prazo, mas antes do previsto”. Em tempo: Na BBC, Matt McGrath destacou o desconforto de cientistas climáticos com um dos pontos abordados pela imprensa internacional na repercussão do relatório recente do IPCC sobre mitigação climática. Esse ponto dizia que as emissões de gases de efeito estufa devem atingir seu pico “no máximo antes de 2025”, o que implicaria que o carbono poderia aumentar por mais três anos antes de iniciar uma trajetória de redução. Para os cientistas, essa interpretação está equivocada, em parte por problemas na própria redação deste trecho. De acordo com esses especialistas, as reduções precisam acontecer o quanto antes, sem deixar margem para novos aumentos até 2025. “Definitivamente, não temos o luxo de deixar as emissões crescerem por mais três anos”, observou Kaisa Kosonen, do Greenpeace.
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