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Literatura em língua francesa: o novo romance de Muriel Barbery

 


#14 - Quinta-feira, 21 de abril de 2022




Resenha
 
Deslocamentos sensórios

Novo livro de Muriel Barbery é um convite para um passeio pelo Japão e pelas esquinas da alma

Uma história que percorre muitos caminhos. Essa talvez seja a definição mais abrangente de Uma rosa só, de Muriel Barbery, escritora francesa, professora de filosofia e autora do best-seller A elegância do ouriço (2006). A começar pela geografia: Quioto é onde se passa a jornada de Rose, uma botânica parisiense de quarenta anos que foi convocada para a leitura do testamento de Haru — o pai japonês que nunca conheceu e por quem se sentiu abandonada durante toda a vida.

O cenário é inesperadamente alternativo àquele apresentado pelos livros de Haruki Murakami, um dos romancistas japoneses mais lidos da atualidade, por exemplo. Em detrimento da vivência de pessoas locais, Barbery nos empresta olhares estrangeiros carregados de uma sofisticação turística. Quem guia o leitor é Paul, o misterioso art dealer belga e pupilo de Haru que, aconselhado por seu mentor, acompanha Rose em incessantes visitas pelos templos budistas da cidade. As descrições são minuciosas: da arquitetura monumental às cores e detalhes que poderiam passar despercebidos a olho nu, é quase possível se projetar ao lado dos personagens nas andanças. As nuances gastronômicas que surgem entre um capítulo e outro seguem a mesma linha: dos peixes exóticos comidos crus ou fritos, passando pelos matchas, chás de ameixa, saquês e cervejas, a autora cria uma deliciosa experiência sinestésica.


Não é a primeira vez que a cultura japonesa aparece em uma obra de Barbery. Em A elegância do ouriço — traduzido para mais de quarenta idiomas e adaptado para o cinema por Mona Achache em 2009 —, é a partir da chegada do japonês Ozu ao pomposo edifício onde se passa a trama que as narradoras Renée e Paloma passam a interagir e a criar uma conexão profunda e complexa. Não é por acaso, já que a autora mora em Quioto há mais de uma década, ainda que seu encantamento pelo país ocorra há muito mais tempo. Em uma entrevista à editora independente Europa Editions, ela conta sobre esse fascínio: “Começou principalmente com a estética, e assim permaneceu: sou fascinada pela capacidade de criar beleza pura e, ao mesmo tempo, refinada; o tipo de coisa que você vê na lenta e doce suntuosidade dos filmes de Yasujiro Ozu, no esplendor dos jardins, na sofisticação discreta da ikebana”.

Leia na íntegra o texto escrito por Olivia Nicoletti.


(No alto da newsletter, a escritora francesa Muriel Barbery/Elena Torre/Reprodução)

Clube de leitura
 
Fragmentos pós-Ruanda

O livro escolhido para o Club de Lecture de abril é Murambi, o livro das ossadas, do escritor senegalês Boubacar Boris Diop, publicado no Brasil pela editora Carambaia com tradução de Monica Stahel. O romance fragmentário mostra os destinos individuais do genocídio de Ruanda. Diop não poupa críticas ao papel da França no último genocídio do século 20. Ao resenhar o livro na Quatro Cinco Um, Paula Carvalho escreve: “O autor destaca no posfácio a ʽnegrofobiaʼ da classe política e da imprensa internacional e como o racismo continua a ser a política colonial francesa, exemplificada na fala do então presidente francês François Mitterand em 1994 (ʽNaquele país um genocídio não é muito importanteʼ)”. Leia aqui o texto na íntegra.
 

Os encontros mensais têm apoio da Aliança Francesa e da Embaixada da França e exploram a duradoura relação dos leitores brasileiros com autores francófonos, clássicos e contemporâneos, publicados no Brasil. A curadoria é de Vincent Zonca (Embaixada da França), Livia Carmona (Aliança Francesa de São Paulo) e Paulo Werneck (Quatro Cinco Um).

Participantes do clube têm 20% de desconto na compra do livro no site da editora usando o código 451MURAMBI20 até o dia 30 de abril.

Livro: Murambi, o livro das ossadas, de Boubacar Boris Diop
Data: 26 de abril
Hora: 19h (duração aproximada de 1h30)
Local: on-line
Valor: gratuito
Inscriçãoneste link (vagas limitadas)
 
Lançamento

Amor de cinema

Roteiro de clássico do cinema francês tem primeira edição no Brasil
 

 

"Faça literatura. Esqueça a câmera", disse o cineasta Alain Resnais à escritora Marguerite Duras. Publicado pela primeira vez no Brasil, Hiroshima meu amor foi originalmente concebido como roteiro para o célebre filme homônimo dirigido por Resnais. Lançado em 1959, tornou-se um dos ícones da Nouvelle Vague. No enredo, uma atriz francesa que visita o Japão para fazer um filme sobre a paz vive um caso de amor com um arquiteto japonês. A trama aborda a memória e o comportamento de personagens no cenário sem perspectiva do pós-guerra. O livro é um lançamento da editora Relicário e tem tradução de Adriana Lisboa e prefácio de Gabriel Laverdière.

Teatro
 
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